quinta-feira, 28 de julho de 2011

Sites de Empreendedorismo

Estes sites podem  ser uma útil fonte de recursos no âmbito das actividades de educação/formação (Cursos de Educação e Formação; EFA.....):

terça-feira, 26 de julho de 2011

As dificuldades de aprendizagem no Ensino Superior

Que factores que contribuem para a adaptação ao Ensino Superior e para o sucesso educativo?
Os estudos citados pelo psicólogo e investigador da Universidade do Minho, Leandro de Almeida e Colaboradores, indicam que as dificuldades de aprendizagem no ensino superior, podem estar associadas aos seguintes factores: 
  1. Falta de conhecimentos  de base para o curso, por exemplo, nas disciplinas consideradas básicas;
  2. Relação mais distante com os professores e a falta de  um feedback destes; 
  3. Um raciocínio dogmático e rígido pouco adequado à apropriação de modelos explicativos mais controversos e complexos; 
  4. Falta de métodos de estudo pautados por fraca autonomia e auto-regulação; 
  5. A pouca clareza do projecto vocacional e  baixa auto-confiança com claras implicações nos níveis de motivação; 
  6. O fraco domínio das TIC e outros recursos de suporte (Línguas estrangeiras,  capacidades de leitura e escrita ...); 
  7.  A gestão deficiente do tempo de estudo, conduzindo por vezes a estudo sazonal e nos momentos de avaliação. 

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Centro de Investigação em Educação


O Centro de Investigação em Educação congrega investigadores do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa e outras instituições, interessados nos problemas educativos, com especial incidência no ensino da Matemática e das Ciências
A partir da página do Centro, tem acesso a outras fontes de informação.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

terça-feira, 19 de julho de 2011

segunda-feira, 18 de julho de 2011

HOWARD GARDNER - a ética vai valer mais que o conhecimento


"É difícil fazer o certo se isso contraria os nossos interesses"  Howard Gardner-

HOWARD GARDNER psicólogo, autor da Teoria das Inteligências Múltiplas: "O planeta não vai ser salvo por quem tira notas altas nas provas, mas por aqueles que se importam com ele."

Howard Gardner, que se dedica a estudar a forma como o pensamento se organiza, balançou as bases da Educação ao defender, em 1984, que a inteligência não pode ser medida só pelo raciocínio lógico-matemático, geralmente o mais valorizado na escola. Segundo o psicólogo norte-americano, havia outros tipos de inteligência: musical, espacial, linguística, interpessoal, intrapessoal, corporal, naturalista e existencial. A Teoria das Inteligências Múltiplas atraiu a atenção dos professores, o que fez com que ele se aproximasse mais do mundo educacional.
Hoje, Gardner tem um novo foco de pensamento, organizado no que chama de cinco mentes para o futuro, em que a ética se destaca. "Não basta ao homem ser inteligente. Mais do que tudo, é preciso ter caráter", diz, citando o filósofo norte-americano Ralph Waldo Emerson (1803-1882). E emenda: "O planeta não vai ser salvo por quem tira notas altas nas provas, mas por aqueles que se importam com ele".

Além de lecionar na Universidade de Harvard e na Boston School of Medicine, ele integra o grupo de pesquisa Good Work Project, que defende o comportamento ético. Esse trabalho e o impacto de suas ideias na Educação são temas desta entrevista concedida à NOVA ESCOLA em Curitiba, onde esteve em agosto, ministrando palestras para promover o livro Multiple Intelligences Around the World (Inteligências Múltiplas ao Redor do Mundo) ainda não editado no Brasil.

A Teoria das Inteligências Múltiplas causou grande impacto na Educação. Após 25 anos, o que mudou?
HOWARD GARDNER Durante centenas de anos, os psicólogos seguiam uma teoria: se você é inteligente, é assim para tudo. Se é mediano, se comporta dessa maneira todo o tempo. E, se você é burro, é burro sempre. Dizia-se que a inteligência era determinada pela genética e que era possível indicar quão inteligente é uma pessoa submetendo-a a testes. Minha teoria vai na contramão disso. Se você me pergunta se minhas ideias tiveram impacto significativo, eu digo que não. Não há escolas e cursos Gardner, mas pessoas que ouvem falar dessas coisas e tentam usá-las.

As escolas têm dificuldade em acompanhar mudanças como essa?
GARDNER As instituições de ensino mudam lentamente e estão preparando jovens para os séculos 19 e 20. Além disso, os docentes lecionam do modo como foram ensinados. Mesmo que sejam expostos a novos conhecimentos, é preciso que eles queiram aprender a usá-los. Se isso não ocorre, nada muda.

Como sua teoria pode ser incorporada às propostas pedagógicas?
GARDNER No livro Multiple Intelligences Around the World, lançado este ano, diversos autores descrevem como implementaram minhas ideias. Enfatizo duas delas: a primeira é a individualização. Os educadores devem conhecer ao máximo cada um de seus alunos e, assim, ensiná-los da maneira que eles melhor poderão aprender. A segunda é a pluralização. Isso significa que é necessário ensinar o que é importante de várias maneiras - histórias, debates, jogos, filmes, diagramas ou exercícios práticos.

Como fazer a individualização do ensino numa sala com 40 estudantes?
GARDNER Realmente é mais fácil individualizar o ensino numa sala com dez crianças e em instituições ricas. Mas, mesmo sem essas condições ideais, é possível: basta organizar grupos formados por aqueles que têm habilidades complementares e ensinar de modos diferentes. Se o professor entende a teoria, consegue lançar mão de outras formas de trabalhar - como explorar o que há no entorno da escola. Se ele acredita que só com equipamentos caros vai conseguir bons resultados em sala de aula, não entendeu a essência do pensamento.

A lista de conteúdos está cada vez maior. Como dar conta do programa e ainda variar a metodologia?
GARDNER É um erro enorme acreditar que por termos mais a aprender, necessitamos ensinar mais. A questão central é que várias coisas que antes tinham de ser memorizadas agora estão facilmente disponíveis para pesquisa. Colocar uma quantidade cada vez maior de informação na cabeça da garotada é um desastre. Infelizmente, essa é uma prática comum em diversos cantos do mundo. Depois de viajar muito, posso afirmar que o interesse de diversos ministros da Educação é apenas fazer com que seu país se saia bem nos testes internacionais de avaliação. E isso é ridículo.

Qual a sua avaliação sobre a Educação brasileira?
GARDNER Acredito que, se o Brasil quer ser uma força importante no século 21, tem de buscar uma forma de educar que tenha mais a ver com seu povo, e não apenas imitar experiências de fora, como as dos Estados Unidos e da Europa. O país precisa se olhar no espelho, em vez de ficar olhando a bússola.

Sua teoria inclui um um método adequado de avaliá-la?
GARDNER Gastamos bilhões de dólares desenvolvendo testes para medir o nível em que está a Educação, mas eles, por si só, não ajudam a aprimorá-la - simplesmente nos dizem quem está melhor ou pior. Para saber isso, basta olhar para as notas. A diferença dos testes de inteligências múltiplas é que é necessário aplicá-los somente naqueles que têm dificuldades. Assim, podemos verificar as formas de ensinar mais adequadas a eles, ajudando todos - e a Educação, de fato.

Os testes de QI sofreram muitas críticas de sua parte. Por quê?
GARDNER A maior parte dos testes mede a inteligência lógica e de linguagem. Quem é bom nas duas é bom aluno. Enquanto estiver na escola, pensará que é inteligente. Porém, se decidir dar um passeio pela cidade, rapidamente descobrirá que outras habilidades fazem falta, como a espacial e a intrapessoal - a capacidade que cada um tem de conhecer a si mesmo, fundamental hoje.

De que forma essa habilidade pode ser determinante para o sucesso?
GARDNER Ela não era importante no passado porque apenas repetíamos o comportamento dos nossos pais. Agora, todos necessitamos tomar decisões sobre onde morar, que carreira seguir e se é hora de casar e de ter uma família. E quem não tem um entendimento de si mesmo comete um erro atrás do outro.

Qual o desafio do mundo para os próximos anos em relação à Educação?
GARDNER Estamos vivendo três poderosas revoluções. Uma delas é a globalização. As pessoas trabalham em empresas multinacionais e mudam de país, o que é bem diferente de quando as populações não tinham contato umas com as outras. A segunda revolução é a biológica. Todos os dias, o conhecimento científico se aprimora e isso afeta a maneira de ensinar e de aprender. O cérebro das crianças poderá ser fotografado no momento em que estiver funcionando, permitindo detectar onde estão os pontos fortes e os fracos e a melhor forma de aprender. A terceira revolução é a digital, que envolve realidade virtual, programas de mensagens instantâneas e redes sociais. Tudo isso vai interferir na forma de pensar a Educação no futuro.

O livro Cinco Mentes para o Futuro aborda as características essenciais a ser desenvolvidas pelos humanos. Como isso se relaciona com as inteligências múltiplas?
GARDNER As cinco mentes não estão conectadas com as inteligências e são possibilidades que devemos nutrir. A primeira é a mente disciplinada - se queremos ser bons em algo, temos de nos esforçar todos os dias. Isso costuma ser difícil para os jovens, que mudam rapidamente de uma tarefa para outra. Essa mente pressupõe ainda a necessidade de compreender as formas de raciocínio que desenvolvemos: histórica, matemática, artística e científica. O problema é que muitas escolas ensinam somente fatos e informações.

Como lidar com o excesso de informações a que temos acesso hoje?
GARDNER Essa capacidade é dominada por um segundo tipo de mente, a sintetizadora. Ela nos aponta em que prestar atenção e como os dados podem ser combinados. É preciso ter critério para fazer julgamentos e saber como comunicar-se de forma sintética. Para os educadores, era mais fácil sintetizar quando usavam-se apenas um ou dois livros.

Qual é o terceiro tipo de mente?
GARDNER A criativa. Ela levanta novas questões, cria soluções e é inovadora. Pessoas desse tipo gostam de se arriscar e não se importam de errar e tentar de novo. Essa é a mente que pensa fora da caixa. Mas você só consegue isso quando tem uma caixa: disciplina e síntese. Por isso, o conselho que dou é dominar a disciplina na juventude para ter mais tempo de ser criativo.

O livro aponta também habilidades associadas a virtudes morais.
GARDNER Uma delas envolve o respeito - e é mais fácil explicar a mente respeitosa do que alcançá-la. Ela começa com o reconhecimento de que cada ser humano é único e, por isso, tem crenças e valores diferentes. A questão é o que fazemos com essa conclusão. Nós podemos matar e discriminar os diferentes ou tentar entendê-los e cooperar com eles. Desde que nascem, os humanos percebem se vivem em um ambiente respeitoso. Observam como os pais se relacionam e tratam os filhos, como os mestres interagem com os colegas e com os estudantes e assim por diante. O respeito está na superfície.

Essa última habilidade se relaciona à ética, certo?
GARDNER Sim. No que se refere à ética, é necessário imaginar-se com múltiplos papéis: ser humano, profissional e cidadão do mundo. O que fazemos não afeta uma rua, mas o planeta. Temos de pensar nos nossos direitos, mas também nas responsabilidades. O mais difícil com relação à ética é fazer a coisa certa mesmo quando essa atitude não atende aos nossos interesses. Ao resumir esses dois últimos tipos de mente, eu diria que pessoas que têm atitudes éticas merecem respeito. O problema é que muitas vezes respeitamos alguém só pelo dinheiro ou pela fama. O mundo certamente seria melhor se dirigíssemos nosso respeito às pessoas extremamente éticas.

O ideal é que as cinco mentes sejam desenvolvidas?
GARDNER Sim. No entanto, elas não se adaptam umas às outras de forma fácil. Sempre haverá tensão entre a disciplina e a criatividade e entre o respeito e a ética. Cabe a você respeitar colegas e superiores, mas, se eles fizerem algo errado, como agir? Ignorar o fato ou confrontá-los? Saber conciliar os diferentes tipos de mente é um desafio para a inteligência intrapessoal. Só você pode se entender e achar seu caminho.

Um dos focos de sua atuação, o projeto Good Work, prevê a formação de bons trabalhadores. Como eles podem ser identificados?
GARDNER Eles possuem excelência técnica, são altamente disciplinados, engajados e envolvidos e gostam do que fazem. Além disso, também são éticos. Estão sempre se questionando sobre que atitudes tomar, levando em conta a moral e a responsabilidade e não o que interessa para o bolso deles. O bom cidadão se envolve nas decisões, participa, conhece as regras e as leis: isso é excelência. Por último, não tenta se beneficiar à custa disso. Há pessoas bem informadas que só promovem o próprio interesse. O bom cidadão não pergunta o que é bom para ele, mas para o país.

Entrevista de Luciana Zenti retirada de http://revistaescola.abril.com.br

CONHECER MELHOR ESTE PSICÓLOGO EM
http://www.youtube.com/TheDukeColloquium

e na sua página http://howardgardner.com/

Nazilla Khanlou - A resiliência dos mais novos

“Há muitas formas de todos nos juntarmos e promovermos a resiliência dos mais novos.” Nazilla Khanlou

Nazilla Khanlou, da Universidade de York, no Canadá, partilhou a sua vasta experiencia nesta área, que se debruça sobre a capacidade de cada um se superar e construir positivamente face às adversidades.

Esta investigadora foi convidada da III Conferência Internacional “Pensar e Agir”, um dos eventos que marca o 10º Aniversário do Programa Escolhas, no âmbito da qual apresentou uma comunicação e deu esta entrevista:

Uma intervenção combinada em várias frentes, que fortaleça cada vez mais a capacidade das crianças e jovens mais desfavorecidos resistirem à adversidade é uma opção eficaz, provada pelos investigadores, em que o Escolhas aposta já nos mais de 100 projectos de inclusão social que viabiliza em todo o país.

Programa Escolhas: Como é que nós podemos melhorar a resiliência nas comunidades?

Nazilla Khanlou: É de referir que a resiliência é um conceito muito interessante da qual se fala frequentemente como se fosse apenas uma característica individual. Mas embora as características pessoais da personalidade como a força ou a vulnerabilidade tenham um papel, o ambiente que nos circunda e onde vivemos é muito importante.
As nossas famílias, a vizinhança, a comunidade. Cada vez mais se reconhece que a sociedade e a comunidade desempenham um papel importante na promoção das crianças e jovens.

PE: E como é que isso se faz?

NK: Partimos de uma perspectiva alargada e vemos se existe um acesso suficiente aos diversos recursos como a educação, cuidados de saúde, acção social e verificamos até que ponto um jovem sente que pertence à sociedade em que vive, se sente incluído nos diversos serviços e discursos que o rodeiam.
Vemos também se existem oportunidades para a participação dos mais novos, que lhes permitam sentirem-se envolvidos nas diferentes realidades com que se cruzam.
Há assim muitas formas de todos nos juntarmos e promovermos a resiliência dos mais novos, quer trabalhando com eles individualmente ou com as suas famílias, mas também de maneira alargada através das diferentes políticas, leis e serviços que temos e que devem trabalhar em conjunto e não em silêncio e separadamente.”


quinta-feira, 14 de julho de 2011

Robustez mental decisiva no Desporto de Alto Rendimento


Está a decorrer de 12 a 17 de Julho, na Madeira, o 13.º Congresso Europeu de Psicologia do Desporto. As duas conferências principais de ontem – robustez mental e métodos qualitativos – decorreram num auditório para 400 pessoas lotado, pelo que a organização transmitiu as apresentações num circuito de vídeo em direto para outras três salas.

A conferencia de Sheldon Hanton, professor da Universidade de Gales, em Cardiff, no Reino Unido abordou a temática da “ existência de incidentes críticos na vida pessoal, no contexto do desporto ou fora deste, e de pessoas marcantes/significantes no seu percurso de vida revelam-se fundamentais. Estas duas características são complementadas pela reflexão sobre o sucesso e o insucesso, que contribui para maximizar o desenvolvimento e a aprendizagem, a que se junta um nível elevado de desenvolvimento das competências psicológicas pessoais.”

Para saber mais, aqui.

Imagem retirada de: http://desporto.maiadigital.pt/login_form

terça-feira, 5 de julho de 2011

O fim da Pirâmide de Maslow?

Pirâmide das Necessidades de Maslow

Maslow organizou uma pirâmide das necessidades humanas, que é do conhecimento dos alunos que frequentam a disciplina de Psicologia no ensino secundário.
Esta hierarquia das necessidades (de acordo com a imagem), tem como princípio: enquanto as necessidades inferiores não estiverem satisfeitas na vida (as necessidades básicas de água, comida, sexo…), não tem importância para essa pessoa as necessidades superiores (as ligadas à realização pessoal).
Desconfiei sempre desta pirâmide, sendo que o meu argumento principal é que o amor é uma necessidade básica. Mas Maslow não pensava assim.

A recente investigação da equipa de Ed Diener, ligado à Ciência da Felicidade, teve por objectivo pesquisar os ingredientes da felicidade à volta do mundo, tendo por base esta proposta de Maslow. Os pesquisadores descobriram que as diversidades das necessidades, não são universais e a hierarquia pouco importa. Ou seja, uma pessoa pode relatar ter boas relações sociais e isso contribuir para a sua satisfação na vida, mesmo não tendo as necessidades básicas satisfeitas.

A investigação de Louis Tay, Ed Diener. Needs and subjective well-being around the world. encontra-se publicada no Journal of Personality and Social
Para saber mais Science Daily e a página da Universidade de  Illinois, aqui.
Um resumo da Teoria das necessidades, aqui.

Leia também: https://positivepsychologyprogram.com/abraham-maslow/

Imagem retirada daqui.

Marcelo Gleiser: "A ciência é uma narrativa humana como a literatura ou a pintura"

Marcelo Gleiser, 52 anos, físico teórico brasileiro foi entrevistado por Nicolau Ferreira do Jornal Publico.
Para quem se interessa pela ciência, filosofia e religião, aqui está a entrevista publicada na edição de hoje.

A humanidade mudou as leis do Universo ao longo dos séculos, mas para o físico brasileiro Marcelo Gleiser isso não tira o compromisso que existe na busca da verdade através da ciência, é só o reflexo da capacidade incompleta e limitada com que olhamos para a natureza.
Marcelo Gleiser, 52 anos, físico teórico brasileiro radicado nos Estados Unidos. Dá aulas na Universidade de Dartmouth, New Hampshire, mas é também cronista na Folha de São Paulo, e está profundamente empenhado na divulgação da Ciência no Brasil. Em Portugal saiu o último livro escrito pelo cientista sobre o Universo, chama-se Criação Imperfeita (Círculo de Leitores). Fala sobre as forças físicas da natureza, a forma como o Universo poderá ter sido criado e a importância de sermos raros num cosmos aparentemente deserto. Mais importante, desmonta a procura de uma teoria unificadora na Física que tenta explicar todas as forças do Universo de uma só vez. Uma busca que defende estarenraizada na cultura científica e que tem origens monoteístas. Nesta tentativa unificadora, a Ciência cai no erro de generalizar os fenómenos naturais e esquecer-se das assimetrias. Todas as margaridas são semelhantes, mas nenhuma delas é idêntica a outra (disse ao P2 numa entrevista em Lisboa, para promover o livro), e a Ciência nunca vai conseguir olhar para tudo. É uma história em construção. Sem fim.

Diz que a Ciência é uma narrativa humana. Que limitações tem?
As pessoas têm a impressão de que a Ciência é a verdade absoluta. Que os dados científicos são incontestáveis e que tudo está correcto. Quando se estuda a história da Ciência, percebe-se que não é bem assim, a Ciência avança e cria informação à medida que o tempo vai passando. Ela vai ficando cada vez mais complexa e mais completa, mas nunca chega ao fim. O que era verdade no tempo de [Pedro Álvares] Cabral, que o Universo era estático com a Terra móvel no centro, era completamente diferente da verdade no século XVII ou da de hoje. A noção de verdade muda com o tempo. O Universo em que a gente vive vai-se transformando à medida que nós aprendemos mais sobre ele. Dessa forma, a posição do Homem no Universo e a compreensão de quem nós somos também mudam. O que eu tento no livro é desmistificar a Ciência, mostrar que ela é, na verdade, uma narrativa, uma construção profundamente humana, uma tentativa de compreensão de quem nós somos. A Literatura faz isso, a Pintura faz isso, a Ciência também está a fazer isso.

Como é que a cultura molda essa narrativa?
A cultura cria um contexto. As perguntas sobre quem nós somos, qual é a essência da vida podem ser as mesmas, mas as respostas dependem muito desse contexto. Voltando, por exemplo, à imagem de Cabral: no século XVI existia uma cultura completamente dominada pela teologia cristã, a visão do mundo era essencialmente religiosa e, dentro dessa visão religiosa, o Homem era um ser extremamente especial, era uma criação divina, e à medida que a Ciência foi avançando, essa visão foi-se transformando.

Richard Dawkins (cientista e autor de A Desilusão de Deus) utiliza a verdade científica para lutar contra a religião, argumento com o qual não está de acordo. Tem que ver com a Ciência ser uma narrativa?
Sim. Acho que Dawkins concordaria com essa noção de que a Ciência é uma narrativa humana. Espero, nunca conversei com ele sobre isso. No que diferimos profundamente é na atitude. Ele tem uma atitude em que a Ciência é a única forma de conhecimento e eu não acredito nisso, eu acho que a Ciência é uma forma de conhecimento, muito precisa, está ligada ao nosso entendimento do mundo, da natureza. A função da Ciência é descrever a natureza, descrever o mundo.

O que é que as outras formas de conhecimento dão ao Homem, como a religião?
Eu não diria que a religião é uma forma de conhecimento, mas a literatura ou a pintura, a música, a poesia, elas criam conhecimento de uma forma completamente diferente da Ciência. Elas constroem realidades que são paralelas à realidade científica. Na literatura não é preciso um compromisso com o real. Jorge Luís Borges ou Saramago criam realidades completamente fantasiosas mas que nem por isso deixam de trazer um elemento de verdade para a dimensão humana.

E essa dimensão é importante?
É fundamental. Dizem que a ficção, através da mentira, diz verdades. E a Ciência tenta sempre dizer verdades através da verdade. São propostas completamente diferentes de se alcançar a mesma coisa, que é uma maior compreensão do espírito humano.

Dawkins presume de mais dessa verdade trazida pela Ciência?
O que me incomoda em relação ao Dawkins é a sua posição absoluta. É um pouco fundamentalista. Esse fundamentalismo ateu sofre dos mesmos problemas do fundamentalismo religioso. Que é acreditar ser o dono absoluto da verdade. A posição do ateu é uma posição que logicamente não faz sentido. O que é que diz o ateu: diz que "eu acredito no não-acreditar". Como é que se pode acreditar no não-acreditar? Para Dawkins, Deus é completamente impossível. E apesar de concordar com isso - também não acredito em Deus ou no sobrenatural - cientificamente você só pode falar no que existe. A Ciência é muito boa para provar o que existe: electrões existem, planetas existem, estrelas existem, galáxias existem. Mas o que é que não existe? Sei lá! Então, eliminar radicalmente o que não existe usando a linguagem da Ciência: Deus não existe, fadas não existem, duendes não existem - também acho, mas não posso ser radical na minha atitude, prefiro manter a cabeça aberta e essa é a posição do agnóstico.

Diz que a procura de uma teoria geral na Física é uma ideia monoteísta. De onde vem?
Essa busca por uma unificação de tudo, por uma teoria final, que seria a soma de todas as teorias possíveis de como a matéria se organiza, que descreve as interacções entre as partículas da matéria, é uma noção essencialmente monoteísta. À medida que as religiões monoteístas foram ganhando força mais ou menos há 3000 anos, essa noção de que Deus é um criador de tudo, então tudo tem uma explicação única que volta a Deus. Essa ideia tomou muita força e entrou na Filosofia. Platão foi influenciado pelos pitagóricos, que defendiam que a natureza é matemática e que a função do filósofo era entender a construção matemática do mundo. Através dessa construção entender-se-ia a mente de Deus. Essa noção de que a natureza é uma ponte entre a mente humana e a de Deus torna a Matemática num instrumento teológico. O cientista passa a ser o intérprete da criação. Essa noção inspirou muitos cientistas. Por exemplo [Johannes] Kepler, no século XVII, foi uma pessoa muito influenciada por isso, e depois Einstein, mesmo que se tenha libertado dessa noção monoteísta do Deus autoritário, ficou com a ideia de que a natureza é matemática, e que pode ser compreendida de uma forma perfeita pela mente humana.

Essa ideia continua presente?
Sim. Por exemplo, existe a teoria das supercordas, a ambição máxima da Física moderna, unificar as forças da natureza numa teoria única. É a encarnação moderna desse sonho platónico de traduzir toda a existência em termos geométricos. Ela traz consigo essa bagagem cultural do monoteísmo, que há uma justificação única e central para tudo o que existe pelas ordens da Física. Para mim, essa noção é um preconceito filosófico influenciado por uma teologia de 3000 anos. Em termos práticos, se você olhar para o que está a acontecer nas descobertas da Física moderna, vê que existe uma tensão entre uma discussão completa do mundo, as simetrias da natureza e as quebras dessas simetrias. Então, criamos uma teoria simétrica, muito bela, e aí as experiências vão e - bum! - quebram essa simetria e mostram que é apenas aproximada. Isso é uma constante na história da Física.

Por que é que essa procura deixou de lhe fazer sentido?
Porque a Física é essencialmente uma Ciência empírica, baseada nos dados, nas experiências. Podemos querer construir teorias muito belas, mas no final quem vai dizer como é a natureza é a própria natureza, através de experiências. Comecei a perceber que, apesar do meu desejo adolescente, romântico, de construir uma visão única do mundo, baseada numa teoria unificada, a história dos últimos 50 anos da Física está a levar-nos a uma posição completamente diferente em que as simetrias são quebradas, que elas são aproximadas e que talvez essa insistência que nós tenhamos em criar uma teoria completa do mundo seja só um preconceito.

Na educação da Física, como cientista, é-se influenciado para a teoria final?
Para a teoria final e também para a confusão entre simetria como uma aproximação e simetria como uma verdade. Em Filosofia, você tem duas correntes, a Filosofia do ser, que é atemporal, não se transforma, e a do devir, do que está sempre a construir-se. E na história da Filosofia houve sempre uma espécie de crise, ou tensão, entre elas. A Ciência contém as duas. O ser - a conservação da energia, por exemplo, que é uma lei que existe independentemente do quando e do onde, e por outro lado o devir - todas as variações locais das coisas que vão acontecendo, em cada planeta, que dependem da história, de detalhes. Para mim, o que é interessante hoje é as forças que criam as diferenças, a origem das assimetrias.

O livro chama essas assimetrias logo para o título -Criação Imperfeita.
No livro, eu tomo cuidado ao dizer que não sou contra a unificação. Mas sou contra a ideia do abuso dessa noção. Para mim, a teoria final é completamente absurda. Pode falar-se em teorias que são parcialmente unificadas, como o electromagnetismo, mas mesmo essa, que é o paradigma da unificação, não é perfeita. Porque existem diferenças entre as propriedades da electricidade e do magnetismo. As unificações que vão ocorrendo vão ser sempre aproximadas, nunca vão ser perfeitas. E certamente nunca vão chegar numa teoria final. Basta ver como funciona a Ciência: através dos dados que colectamos sobre o mundo. Dependemos de telescópios, de aceleradores de partículas, etc. Esses instrumentos vão ficando mais precisos e poderosos à medida que a tecnologia vai avançando, mas eles têm limites de precisão. Como nós não temos uma visão total do mundo, a nossa descrição da natureza vai ser sempre limitada. A ideia de chegarmos a uma teoria que contém tudo não faz sentido, porque nunca vamos saber se a teoria está certa ou errada. Por isso eu falo em narrativa, a Ciência é uma construção que está sempre em andamento, ela não tem um ponto final.

Os próprios conceitos como electromagnetismo não limitam o modo como olhamos para a Física?
Eles não limitam como vemos a Física, eles são como a Física é. A Física é construída a partir desses conceitos porque ela é feita por nós.

A Física não é a natureza.
Exactamente. A Física é o que a gente pode dizer sobre a natureza. Aliás, não fui eu que disse isso, foi [Niels] Bohr (Nobel da Física em 1922). Idealmente, podemos descrever tudo sobre o mundo, e a posição mais concreta e realista é que infelizmente não é verdade, porque somos seres muito sofisticados, mas limitados. A noção de teoria final é tentar equiparar o Homem a Deus, e isso, para mim, é uma noção extremamente perigosa.

Uma das frases que mais repete no livro é. "Só sabemos o que podemos medir." Qual é o perigo das teorias impossíveis de serem testadas?
O perigo é levar à perda da credibilidade da Ciência. A força da Ciência está justamente no facto de que quando se diz que o Sol é uma estrela, que tem uma temperatura na superfície de 5800 graus, está a fazer-se uma asserção que se pode comprovar. Mas se se disser que vivemos num universo em que existem infinitos universos, mas que não se podem contactar esses múltiplos universos, então está a fazer-se uma asserção que não é científica, em que tudo é válido, e começa a discutir-se mais Filosofia do que Ciência. Essa noção de concreto da Física está a perder-se com a especulação um pouco exagerada dos físicos teóricos.

Essa especulação é recente?
Está pior nos últimos 20 anos.

Normalmente o nível da discussão ultrapassa o conhecimento comum.
É, mas por exemplo o [Stephen] Hawking escreveu um livro que faz asserções do tipo "a Ciência explica hoje a origem do Universo" e não é verdade. Existem modelos matemáticos, extremamente abstractos, que fazem previsões em relação à origem do Universo, mas dizermos que a Ciência explica a origem do Universo não é verdade. Passa-se ao público uma impressão de que sabemos muito mais do que sabemos, e isso faz com que a Ciência perca credibilidade.

Diz: "O cientista deve estar preparado para encarar as consequências do seu trabalho." Parece algo que pedimos aos políticos. Também devemos exigir isso aos cientistas?
A Ciência pode trazer o bem e o mal. Isso vê-se, por exemplo, na bomba atómica, na energia nuclear. Os usos das descobertas científicas em geral escapam das mãos dos cientistas, e vão ser utilizadas pelos políticos, pelos industriais, pelas grandes empresas, etc. Os cientistas têm que estar muito conscientes desse perigo e da aliança que têm com o poder.

Fukushima [acidente na central nuclear no Japão em Março último] é culpa dos cientistas?
Não. Os cientistas também não são culpados pela bomba em Hiroxima e Nagasáqui. Esse é o ponto.

Há coisas que devem estar fechadas aos cientistas e à Humanidade?
Mas quem vai definir isso? Não há como controlar a pesquisa científica, é uma espécie de caixa de Pandora. Destruir todas as bombas nucleares e apagar esse capítulo da humanidade - isso nunca vai acontecer. Porque já foi descoberto, pode voltar. O que tem que ser feito é uma maior consciencialização da população, dos políticos que são eleitos. Por isso é que o cientista não se deve dar ao luxo de ficar só na academia. Tem que se manifestar publicamente como intelectual. Tem que ter uma consciência ética do que está a fazer e quais são as possíveis consequências. Na Segunda Guerra Mundial, quando um grupo de cientistas foi trabalhar no projecto Manhattan para as bombas, eles estavam a responder ao medo que tinham que os nazis tivessem a bomba. Essa era a motivação principal. Mas quando a Alemanha se rendeu, o projecto tinha uma inércia tão grande que não conseguia parar. Transformou-se muito mais numa arma política, militar, do que numa descoberta científica. Os cientistas perderam o controlo e a bomba passou a ser uma propriedade dos políticos e militares. Esse é um risco que vai sempre acontecer.