segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Resiliência - sugestões para as famílias
Edward Hopper Reclining Nude
Resiliência é a capacidade de se recuperar com rapidez e eficácia depois de uma crise.
Acreditava-se que uma pessoa ou tinha resiliência ou não tinha. Na actualidade a partir das investigações, entendemos que a resiliência pode e deve ser aprendida.
As ligações afectivas
- As ligações afectivas são importantes para a resiliência.
- É importante o seu filho partilhar valores semelhantes, crenças e ideais com adultos (amigos, professores, religiosos e grupos culturais e extracurriculares treinadores e colegas).
- É importante o convívio familiar saudável, o que leva a um aumento de sentimentos positivos e de sentimentos de pertença.
A escola
- É importante que os pais /enc. educ. se mantenham ligados à escola (informados, participativos nas actividades que envolvem o educando).
- É importante confiar que é necessário aprender com exigência.
Em casa
- É importante o seu filho ter as suas responsabilidades, o que inclui a realização de tarefas familiares, com regras claras e em torno de comportamentos aceitáveis.
- É importante para o seu filho ver os adultos empenhados no seu desenvolvimento global e no bem-estar emocional.
- É importante criar oportunidades para encorajar e elogiar o seu filho, para cumprir metas, a se comportar de forma adequada, e a tratar os outros com gentileza e respeito.
- É importante o seu filho ajudar os outros (com actos de bondade). Quando ajudamos os outros, mesmo quando estamos a ter dificuldades, podemos melhorar a nossa capacidade de resistência. Estas atitudes não só podem contribuir para uma visão mais positiva do mundo à sua volta, mas podem realmente aumentar a resiliência.
- É importante o seu filho desenvolver o pensamento crítico;
- É importante o seu filho desenvolver habilidades de gestão de conflitos e de comunicação.
- É importante que ouça, muitas vezes as mesmas histórias que ele lhe conta. Responda às perguntas de forma clara e concisa, tendo em conta os níveis de desenvolvimento dos seus filhos, espelhando que o compreende embora possa discordar das suas atitudes (se for esse o caso). Estar disponível para o seu filho para discutir acontecimentos, aumenta diariamente as chances de que seu filho também vai procurá-lo para discutir as situações difíceis.
Elaborado com base em: Building Resilience in Our Children ,Robin H. Gurwitch, Ph.D. University of Oklahoma Health Sciences Center;National Center for School Crisis and Bereavement
sábado, 26 de novembro de 2011
Os programas de saúde mental nas escolas.
A American Academy of Pediatrics edita um jornal oficial que constitui uma importante fonte de recursos de artigos científicos na área da saúde de crianças, adolescentes e suas famílias.
Publicado neste jornal, o artigo School – Based Mental Health aborda a importância dos programas de prevenção da saúde mental em contexto escolar. Estes programas pretendem melhorar o acesso ao diagnóstico e tratamento dos problemas na área da saúde mental, em crianças e adolescentes.
O artigo recomenda que pediatras, educadores e especialistas de saúde mental, devem trabalhar em conjunto de modo a implementar nas escolas, serviços eficazes neste âmbito.
Neste mesmo Jornal, poderá consultar artigos sobre diferentes temáticas, tais como a resiliência, hiperatividade, suicídio, depressão, entre outras. Muitos são de acesso livre.
Neste mesmo Jornal, poderá consultar artigos sobre diferentes temáticas, tais como a resiliência, hiperatividade, suicídio, depressão, entre outras. Muitos são de acesso livre.
Aceder ao artigo, aqui
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Cidadania e Segurança
O módulo curricular não – disciplinar Cidadania e Segurança constitui uma componente do programa de desenvolvido sobre a coordenação da Equipa de Missão para a Segurança Escolar que visa promover nos alunos atitudes e comportamentos de civilidade e segurança.
O público-alvo são os alunos de 5º ano, mas poderá ser útil para outros anos de escolaridade.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Ataques de pânico
Ataques de pânico parecem vir do nada, mas a pesquisa encontra que os sintomas aparecem até uma hora antes de o doente está consciente do ataque.
Aceder ao artigo da Scientific American. "Panic attack sufferers are unaware of symptoms."
domingo, 20 de novembro de 2011
Stress e depressão - Manuais
Barbara Kruger, Untitled (o seu corpo é um campo de batalha), 1989
Fundação Broad Art
Os arquivos para download abaixo mencionados, constituem programas de prevenção para ajudar adolescentes a lidar com o stress, e que se encontram também em risco de depressão.
Encontram-se citados pelo Journal of American Medical Association (JAMA).
São para uso de profissionais de saúde mental e enquadram-se no modelo cognitivo-comportamental.
Encontram-se citados pelo Journal of American Medical Association (JAMA).
São para uso de profissionais de saúde mental e enquadram-se no modelo cognitivo-comportamental.
Poderá aceder ao "Manual Terapeuta download" e ao "Workbook Downloadable Teen".
Basta clicar no nome do arquivo para abri-lo no programa Adobe Acrobat Reader.
Aceder aqui. aos arquivos.
sábado, 19 de novembro de 2011
"Novamente a dois" por Manuel Peixoto
Amadeo Modigliani Jacques Lipchitz e a sua esposa
Ninho vazio é uma expressão que os psicólogos utilizam para retratar aquelas situações em que os filhos saem de casa para ir estudar para o ensino superior, por exemplo, e a casa passa a ser constituída só pelo casal. É uma sensação de que o ninho ficou vazio.
Sobre esta e outras transições, o texto publicado de Susana Almeida Ribeiro no Life&Style, datado de 24.08.11 que integra os comentários de Manuel Peixoto, psicólogo e terapeuta familiar:
"Contactado pelo Life&Style, Manuel Peixoto, terapeuta familiar e de casal, explica que a desagregação matrimonial é mais comum em casais que, depois de serem pais, sempre privilegiaram uma relação “triangular” (mediada por um filho). “O problema é mais grave quando aquilo que aguentava o casal era a função parental e não a função conjugal”, resume o psicólogo.
Manuel Peixoto realça a importância da “prevenção” em toda esta transição. “É importante o casal ir fazendo saídas a dois, fins-de-semana...”, sublinha. Se esta “prevenção” não for feita, quando o casal volta a ter tempo e espaço doméstico exclusivamente conjugal, não sabe como preenchê-lo.
“Alguns casais conseguem ultrapassar isto e outros não, até porque este período coincide com outros eventos complicados na vida de uma pessoa, nomeadamente a reforma, a menopausa e a andropausa e a existência de netos, que implica a admissão da própria velhice”, explica o psicólogo.
Em muitos casos a rutura é inevitável, especialmente se um dos membros do casal encetar um relacionamento extraconjugal, algo relativamente comum, explica Manuel Peixoto. Nesses casos, o psicólogo aconselha terapia familiar e conjugal.
Manuel Peixoto recomenda igualmente aos dois membros do casal que se mantenham ativos, seja através de projetos de voluntariado, inscrição em universidades seniores, férias ou viagens.
Se já passou ou está a passar por esta fase, saiba, porém, que há igualmente muitos aspetos positivos a considerar. Em 2010, uma sondagem feita no Reino Unido a pais de jovens que tinham saído de casa há pouco tempo anotou as seguintes vantagens: genericamente, os pais sentiram-se “mais jovens”, passaram a ter mensalmente mais 680 euros ao seu dispor, aumentaram o seu leque de amigos, experimentaram novos hobbies e sentiram que a relação do casal melhorou."
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Efeitos do stress na infância
Ansiedade na infância e depressão podem alterar a forma como a amígdala se liga a outras regiões do cérebro. Este descoberta, pode ajudar a explicar como o estress precoce pode levar a futuros problemas emocionais e comportamentais.
Saber mais o artigo Mental Illness: Early-Life Depression and Anxiety Changes Structure of Developing Brain publicado online a 15.11.11 na Science Daily
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Gabriela Moita sobre Sexualidade
Realizou-se ontem no Porto uma sessão com o título "Sexualidade: tudo o que querias saber mas não ousavas perguntar", organizada pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Estiveram presentes 300 jovens, dos 13 aos 18 anos.
Três especialistas em psiquiatria e sexologia - Margarida Braga, Gabriela Moita e Manuel Esteves -, moderados pelo psiquiatra Rui Mota Cardoso, esclareceram as duvidas dos jovens.
De acordo com o artigo de Alexandra Campos publicado no Jornal Publico de 15.11.11, aqui estão as perguntas e respostas da Psicóloga Gabriela Moita (http://gabrielamoita.no.sapo.pt/)
As mulheres gostam mais da penetração de homens de raça branca ou negra?
Gabriela Moita: Esta pergunta contém muitas perguntas. Vou dividi-las: As mulheres gostam mais de penetração? Desde logo, [a penetração], para muitas mulheres, não é o que dá mais prazer. O centro do prazer da mulher não é propriamente a vagina. Mas o que esta pergunta esconde é o medo de que o pénis não tenha o tamanho suficiente. A cor não é importante. E o tamanho também não tem importância. A zona mais sensível [da mulher] tem seis centímetros e o terço externo da vagina tem dois. Alguém pensa que um pénis tem menos de dois centímetros? [Risos]. O prazer está mais associado a todo o encontro erótico.
Como localizar e como estimular o ponto G?
Gabriela Moita: Dentro da sexologia não há acordo [sobre o ponto G]. Alguns estudos apontam para a possibilidade de um ponto que possa dar mais prazer, mas isto não é consensual. O grande drama é quando, em vez de procurar o prazer, se começa a procurar o ponto G ["ponham binóculos", sugere um rapaz na assistência].
A masturbação é saudável?
Gabriela Moita: Se a resposta fosse sim, isso significaria que teríamos que pôr todas as pessoas a masturbar-se. A resposta é: não faz mal à saúde. Não faz mal e tem a vantagem de servir como fantasia para preparação do primeiro encontro sexual.
Como é que gosto desta pessoa que me faz tanto mal?
Gabriela Moita: A ideia de que o amor é a coisa mais bonita e tudo cura é das mais erradas. É grave dizer: "É uma pessoa tão excepcional que se consegue manter naquela relação." Há pressões sociais e ideias feitas que nos impedem de tomar decisões. Felizmente, vivemos numa época em que não há nada que deva ser para toda a vida.
E se o preservativo romper?
Gabriela Moita: Podem dirigir-se a um centro de apoio a adolescentes ou a centros de saúde onde provavelmente vão receitar a pílula do dia seguinte. Em último caso, vão buscar à farmácia [sem receita].
O que é o sexo tântrico?
Gabriela Moita: Não sei explicar. Tem a ver com timings, capacidade de sentir, diminuição da ansiedade e possibilidade de elevar o prazer ao máximo com o esforço mínimo. É um jogo de encontro com o outro que leva horas.
É verdade que há uma doença da mulher dos 200 orgasmos?
Gabriela Moita: No século XIX, a mulher doente era aquela que tinha um orgasmo. Um especialista nessa altura até escreveu : "Existem algumas mulheres que podem ter prazer sexual e não são ninfomaníacas". São as épocas que vão definindo o que está certo ou não. Digamos que ter 200 orgasmos será para alguém que tem sorte e tempo...
terça-feira, 15 de novembro de 2011
As radiações do telemóvel
Com o título A doença do século? o Professor António Gentil Martins, assina este texto publicado no Jornal Público no dia 10.11.11, sobre os efeitos dos telemóveis para a saúde:
Sempre pensámos que não é lícito extrapolar experiências com ratos com o que acontecerá no homem: porém, esses resultados não podiam ser simplesmente ignorados. Por outro lado, estudos feitos no ser humano, embora não seguramente esclarecedores, apontavam para indiscutíveis perigos, que agora, com a sua idoneidade, a Organização Mundial de Saúde veio confirmar. Daí impor-se ter consciência dos problemas e saber como melhor utilizá-los, agora que se tornaram, como os computadores, um elemento indispensável no mundo dito civilizado.
Assim sendo, e não conseguindo prescindir do seu uso, importa fazê-lo com moderação e prudência, usando as suas vantagens mas evitando, tanto quanto possível, os seus inconvenientes. Cada um deve, pois, decidir-se, estando consciente do que faz.
Vantagens: facilidade de comunicação, mobilidade, mais as que cada qual achar ou entender.
Desvantagens: Perigo de ficar "viciado" no seu uso; contas telefónicas crescentes e insustentáveis; perigo pelas radiações electromagnéticas, de baixa frequência: dores de cabeça, zumbidos, náuseas, calor local Insónias, fadiga; maior incidência de tumores cerebrais; perdas de memória, dificuldades de aprendizagem; dificuldades de visão, ardor irradiando à face; alergias cutâneas e sensação de queimadura; lesões genéticas nos glóbulos do sangue (quebra do DNA ).
Como minimizar as desvantagens: Fale durante o menor tempo possível (só recados curtos e nunca longas conversas, como os namorados gostam de fazer). Afaste, quanto possível, o telemóvel da cabeça, ao atender (pois é nesses momentos que se produz mais radiação. Use alternadamente o lado esquerdo e o lado direito. Ao ligar e ao atender faça uma pequena espera (é ao ligar e desligar que a radiação é mais intensa). Tenha sempre o telemóvel com a carga máxima (com carga baixa emite mais radiação). Afaste-se dos outros quando fala. Evite falar no carro (mesmo parado...) ou em espaços fechados. Os objectos metálicos reflectem a radiação, acentuando a dose de radiação. Se tem kit de mãos livres, assegure-se de que tem antena exterior. Use o auricular apropriado (mas não coloque o telemóvel junto ao baixo ventre ou no bolso das calças, e não o vire para dentro). Não use armações metálicas nos óculos (aumenta cerca de 20% a irradiação). Use bolsas com écrãs protectores: estas reflectem as ondas electromagnéticas, afastando-as do utilizador. Ao falar, mantenha o protector da antena subido.
Sendo as crianças particularmente sensíveis e vulneráveis à irradiação electromagnética dos telemóveis, deve-lhes ser vedado, ou pelo menos limitado, o seu uso ( situações de emergência). Os telemóveis nunca poderão ser considerados como brinquedos!
Lynne Reder - construir conhecimento
Lynne Reder
A Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) disponibiliza on-line, Entrevistas, Conferências, Publicaçoes e Outros Recursos não Âmbito da Educação, cidadania e Otras Temáticas.
Aqui vos deixo o ENDEREÇO da FFMS eA entrevista a Lynne Reder - Psicóloga, Sobre "como se Aprende" :
Aprender a Aprender - foi o título da Conferência de Lynne Reder , Prof.ª de Psicologia na Universidade de Carnegie Mellon , nos Estados Unidos, formada Pelas Universidades de Stanford e de Michigan , com hum Pós Doutoramento em Yale, Especialista em Psicologia Cognitiva .
Publicada no Jornal de Letras , ESTA entrevista regista como Opiniões DOS profs. Pedro B. Albuquerque , licenciado na Universidade do Porto e doutorado na Universidade do Minho , e Paula Carneiro, investigadora na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa doutorada em Psicologia Experimental e com pós-doc da Universidade de Salamanca
Publicada no Jornal de Letras , ESTA entrevista regista como Opiniões DOS profs. Pedro B. Albuquerque , licenciado na Universidade do Porto e doutorado na Universidade do Minho , e Paula Carneiro, investigadora na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa doutorada em Psicologia Experimental e com pós-doc da Universidade de Salamanca
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Educational Psychology Review
No Springer /psicologia poderá consultar artigos científicos na área da Psicologia em contexto escolar. Alguns desses artigos são de acesso livre.
No mesmo site, tem também acesso a outras revistas e jornais científicos.
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
O nosso cérebro é um computador?
Ed Boyden
Um extrato dessa entrevista que teve o título "Não me parece impossível tornar conscientes certos objetos", publicada no P2 do Jornal Publico de hoje:
Há menos de dez anos, ainda não tinha o doutoramento, inventou em Stanford, com um colega, uma técnica que permite o estudo preciso dos circuitos cerebrais e que, na opinião de muitos especialistas, abriu caminhos na investigação em Neurociências que até aí eram impensáveis. Como primeiro convidado do ciclo de divulgação científica organizado pelo Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud, Boyden deu uma conferência perante um auditório cheio, numa noite há duas semanas, no Centro para o Desconhecido, em Lisboa…
...
Há uns anos, co-inventou aquilo a que poderíamos chamar um "interruptor genético", para ligar e desligar neurónios com feixes de luz. Em que consiste esta tecnologia?
Ed Boyden: O cérebro é feito de muitos tipos de células diferentes e a questão essencial é conseguir saber como é que essas células funcionam em conjunto para tornar o cérebro capaz de fazer as computações que faz - e também para perceber e tratar as disfunções cerebrais. Ora, como as células cerebrais são essencialmente calculadores eléctricos, para controlar a actividade deste ou daquele circuito de neurónios precisamos de conseguir injectar electricidade apenas nas células desse circuito, mas sem afectar as outras células.
Existem na Natureza muitas moléculas capazes de converter a luz em energia eléctrica, como, por exemplo, as que as plantas utilizam para a fotossíntese. Portanto, o que fizemos primeiro foi procurar essas moléculas numa série de organismos - algas, bactérias, fungos, etc. E, a seguir, conseguimos pô-las a funcionar dentro dos neurónios. Ou seja, encontrámos uma estratégia que nos permite controlar os neurónios com luz.
…
Disse na sua conferência que o cérebro é um computador. Sem cair num dualismo corpo-mente, há quem pense que a diferença entre um computador e o cérebro é que o cérebro dá origem a um "eu" (self) consciente, o que nenhum computador faz. O cérebro é mesmo apenas um processador de informação?
Ed Boyden: [pensa um momento] Acho que isso depende de um certo número de definições. Está a dizer "só um processador de informação" como se isso não fosse nada. Por que é que o "eu" não seria um certo tipo de informação? E por que é que um computador não seria capaz de processar fosse o que fosse? Há uma escola de pensamento segundo a qual tudo é computação - que afirma que, quando deixo cair esta caneta na mesa, ela calcula as leis da gravidade.
Concorda com esse ponto de vista?
Ed Boyden: Está a tornar-se cada vez mais óbvio. Por exemplo, o genoma contém um código feito de três mil milhões de bases. Cabe num CD. Esse código é lido e são produzidas proteínas e enzimas que, por sua vez, executam outros programas, que constroem células e organismos que funcionam graças a sinais elétricos que operam sobre o substrato celular. Mas é claro que as moléculas que geram os sinais elétricos também estão codificadas no genoma. Portanto, podemos considerar que o corpo humano utiliza esses três mil milhões de bases como um programa de computador que também contém o código do seu próprio hardware. [pensa um momento] Nesse sentido, toda a biologia é computação.
Mas nós estamos lá dentro, com a nossa narrativa pessoal.
Ed Boyden: Sim, mas isso não está em causa. É muito possível, e há quem o tenha proposto, que o "eu" também seja computação. Do ponto de vista evolutivo, era essencial ter algum tipo de processo capaz de construir histórias e significados. Se olharmos para as áreas tradicionais da informática, como a inteligência artificial [IA], é essa capacidade de derivar significado dos fenómenos que os informáticos da IA gostariam mesmo de conseguir reproduzir num computador. E estão a fazer alguns avanços nessa direção.
Do ponto de vista das Neurociências, o que estamos a tentar perceber é justamente como é que, concretamente, derivamos significado dessa gigantesca quantidade de informação que entra constantemente no nosso corpo através das nossas células sensoriais, mas também da nossa própria memória.
O cérebro processa a informação da mesma maneira que um computador?
Ed Boyden: É óbvio que o cérebro funciona de uma maneira muito diferente dos computadores atuais. Os computadores de hoje não são muito inteligentes. A arquitetura dos computadores actuais remonta à era da Segunda Guerra Mundial, quando as pessoas pensavam que devia haver uma lista de instruções e um único processador dentro do qual as instruções desfilassem - e uma memória, onde os dados sobre os quais essas instruções agem estivessem armazenados. No fundo, é um computador muito pequeno com muita memória. Ora, muita gente pensa que o cérebro funciona de outra maneira. No cérebro tudo é memória, o armazenamento acontece em todo o lado e o processamento acontece em todo o lado, o que representa uma perspectiva muito diferente.
Talvez se consiga um dia simular um cérebro num computador - ou pelo menos partes do cérebro. Isso significa que são a mesma coisa?
Ed Boyden Suponhamos que uma pessoa sofre de depressão - perdeu a esperança, a motivação, acha que nada do que faz vale a pena. Podemos pôr um eléctrodo numa parte do seu cérebro chamada área 25 e, de repente, quando ligamos esse estimulador eléctrico, que é controlado por um computador exterior, a pessoa torna-se mais enérgica, mais motivada, sente-se mais ligada aos outros, a sua maneira de estar no mundo muda totalmente. De certa maneira, podemos dizer que temos aqui um híbrido de humano e computador, não é? O computador sabe exatamente quais os impulsos elétricos que deve emitir, possui circuitos que lhe permitem enviá-los na altura certa - e está a transmitir para a parte certa do cérebro.
Imaginemos que inserimos não um, mas 100 eléctrodos no cérebro dessa pessoa. Agora, já temos a capacidade de lá introduzir informação para, por exemplo, codificar certos tipos de memórias. Suponhamos então que a pessoa tem a doença de Alzheimer ou sofre um AVC e que parte da sua memória é destruída. Se houvesse uma maneira de codificar as memórias, de fazer um backup e de, a seguir à doença, fazer chegar essa informação às células que foram poupadas, seria possível tornar a inserir as memórias perdidas.
Muita gente anda a pensar nisso, a perguntar-se se seria possível armazenar memórias para que, em caso de perda de certas áreas do cérebro, fosse possível restaurá-las.
Demos mais um passo: o cérebro de uma pessoa tem agora uma parte informática e uma parte biológica a trabalhar em conjunto. De repente, fica sem a parte biológica do seu cérebro. Ora, acabámos de dizer que podemos utilizar um computador para substituir a parte que foi perdida...
Resumindo: numa primeira fase, tínhamos um cérebro onde, para tratar uma depressão, fora feito upload de um bocadinho de informação externa; depois, numa segunda fase, metade do cérebro fora roubada pela doença de Alzheimer e era substituída por computadores; e, numa terceira fase, a pessoa perdera a outra metade do cérebro e substituía-se também essa metade por um computador.
A maior parte das pessoas não acha este tipo de raciocínio falacioso. Pode ser extremamente difícil de concretizar, não estou a dizer que não, pode demorar muitos anos. Mas do ponto de vista lógico, no fim deste procedimento todo, a única coisa que resta é um computador. Trata-se de uma questão filosófica muito antiga: se substituirmos as células uma a uma por pequenos computadores que reproduzem exatamente o que cada célula faz, no final de contas será que ainda temos uma pessoa consciente? E o que é interessante é que há muita gente atualmente a tentar encontrar maneiras de fazer exatamente isso.
…
Portanto, o cérebro não funciona com zeros e uns?
Ed Boyden: Não, o cérebro é uma coisa muito complicada, que transmite sinais através da difusão de gases, de campos elétricos, de todo o tipo de hormonas e moléculas e que está ligado ao resto do corpo.
…
Disse que, no seu laboratório, tem adotado uma estratégia de empreendedorismo. O que é que isso quer dizer exatamente?
Ed Boyden A maior parte da ciência é feita porque alguém tem um problema importante que quer mesmo resolver e dedica a sua vida a isso e a tentar dar o seu contributo. Penso que nós temos uma abordagem um pouco diferente: tentamos ver que tipos de problemas são importantes, que tipos de soluções seriam susceptíveis de ser desenvolvidas e o que é que deveríamos fazer para inventar essas soluções e obter resultados. É mais no espírito de alguém que está a tentar criar uma empresa do que no de alguém que diz frontalmente que quer resolver uma questão específica.
E funciona melhor?
Ed Boyden:Não sei, mas se todos estão a fazer de uma maneira, por que não experimentar outra? E um dos efeitos desta abordagem é que as pessoas formam os seus próprios grupos de investigação, ou novas empresas, e podem assim atrair recursos para tentar facilitar a inovação.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
O erro de Darwin (1)
Exemplo ilustrativo da inteligência humana: inventamos um lápis feito de diversas fontes, com múltiplos propósitos.
INGREDIENTES ESSENCIAIS DA MENTE HUMANA
Charles Darwin argumentou em seu livro “A Descoberta do homem”, de 1871, que a diferença entre a mente humana e a não humana é “de grau e não de padrão”. Porém, a mente humana difere da mente dos chimpanzés (com quem compartilhamos 98% dos genes) de modo qualitativo e quantitativo.
Os quatro caracteres abaixo distinguem a mente humana da dos animais:
- Ao homem é permitido criar uma variedade virtualmente ilimitada de mundos, conceitos e coisas, através de uso repetido de uma regra para criar novas expressões e pela mistura de elementos específicos para criar novas ideias.
- A combinação indiscriminada de ideias permite mesclar diferentes domínios do conhecimento – como arte, sexo, causalidade, amizade -, gerando assim novas leis, relações sociais e tecnologias.
- Os símbolos mentais codificam experiências tanto reais quanto imaginárias, formando a base do sistema de comunicação rico e complexo. Esses símbolos podem ser mantidos por si mesmo ou expressos por palavras ou figuras a outras pessoas.
- O pensamento abstracto permite a contemplação de coisas além do que podemos ver, ouvir, tocar provar ou cheirar.
Elaborado com base Marc Hauser, A Origem da Mente, Scientific American - Em Busca da Consciência - , nº 40, 2011.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Há uma reorganização no cérebro na adolescência
Sarah-Jayne Blakemore
Entrevista a Sarah-Jayne Blakemore ao Jornal Publico P2 de 31 de Outubro de 2011.
Entrevistada por Ana Gerschenfeld, aqui está a parte inicial:
Entrevistada por Ana Gerschenfeld, aqui está a parte inicial:
O cérebro adolescente transborda de emoções, de vontade de fazer coisas desmedidamente arriscadas, mas o seu dono ainda não consegue pensar como um adulto e controlar os seus impulsos. Não sabe prever as consequências dos seus actos.
Sarah-Jayne Blakemore, especialista em neurociência cognitiva no University College de Londres, estuda o desenvolvimento biológico do cérebro dos adolescentes – e em particular daquilo que chama o “cérebro social”, aquela parte do cérebro que permite a um ser humano, desde muito cedo, colocar-se no lugar do outro, conferindo-lhe capacidades de interacção social únicas.
A visão que está a emergir graças às técnicas de visualização do cérebro em acção é que o cérebro adolescente ainda tem um longo caminho pela frente para se tornar adulto. O que poderá, por exemplo, ter implicações em termos pedagógicos.
Sarah-Jayne Blakemore esteve há dias em Lisboa para participar no Fórum Gulbenkian de Saúde, este ano dedicado ao tema “Labirintos da Adolescência” (aceder aqui).
Interessa-se pelo desenvolvimento do “cérebro social” nos seres humanos. O que é o cérebro social?
O que entendo por cérebro social é a rede de regiões cerebrais que estão implicadas na nossa compreensão dos outros – as suas mentes, intenções, as suas emoções. É o que nos permite interagir com outras pessoas.
Até recentemente, pensava-se que o cérebro humano parava de se desenvolver cedo na vida. Hoje, sabe-se que continua a desenvolver-se durante décadas. O que é que acontece no cérebro, em particular durante a adolescência?
É um facto que a maior parte do desenvolvimento cerebral acontece muito cedo. Mas o que mudou é que agora percebemos que o cérebro humano continua a desenvolver-se ao longo da adolescência e até à casa dos vinte e mesmo dos 30 anos. Só descobrimos isso há 10 ou 15 anos, quando nos tornámos capazes de visualizar o cérebro humano em acção graças a tecnologias como a ressonância magnética. E sabemos hoje que o cérebro (e em especial o cérebro social) sofre uma espécie de reorganização no início da adolescência. Em termos de estrutura e de função. Que continua durante um longo período.
Quais são as diferenças entre o cérebro adolescente e o adulto?
Sabemos que, pelo menos no córtex pré-frontal, a parte da frente do cérebro, envolvido em muitas funções cognitivas superiores como a tomada de decisão e a planificação, ou ainda a consciência de si e as interacções sociais, o número de sinapses (as ligações entre os neurónios) é muito maior no início da adolescência do que na idade adulta. Durante a adolescência, esse número de ligações vai reduzir-se drasticamente
Nas imagens de ressonância magnética, o que vemos é uma redução do volume de matéria cinzenta do cérebro. Por outras palavras, o córtex do cérebro adolescente contém mais matéria cinzenta do que o córtex do cérebro adulto. Isso não é realmente uma coisa boa e, ao longo da adolescência, o excesso de sinapses, de ligações neuronais, vai sendo eliminado, permitindo que o córtex funcione de forma mais eficiente. Acho que é provavelmente o excesso de matéria cinzenta que mais caracteriza o período da adolescência.
É algo como uma receita para uma “tempestade perfeita” no cérebro?
O que acontece é que algumas regiões cerebrais estão mais desenvolvidas do que outras durante a adolescência, porque as diversas regiões cerebrais apresentam trajectórias diferentes de desenvolvimento. Por exemplo, as regiões cerebrais que têm a ver com as emoções estão mais desenvolvidas na adolescência do que o córtex préfrontal, que, como vimos, ainda está longe da maturidade. Portanto os adolescentes, que têm vontade de correr riscos desmedidos, que sentem prazer em fazê-lo, ainda não possuem um córtex pré-frontal totalmente funcional que lhes permita parar e avaliar se devem ou não correr tal ou tal risco. É esse desajustamento entre o desenvolvimento das diversas regiões que pode dar origem a uma “tempestade perfeita”. Mas não tenho a certeza de que esta expressão seja a descrição mais adequada.
A palavra “tempestade” tem sido usada para falar do que acontece no cérebro adolescente por alguns especialistas.
Mas não por mim. Precisamos de uma expressão melhor. Porque “tempestade” tem uma conotação muito negativa e a adolescência não é apenas algo de negativo. De facto, é muito importante poder arriscar, porque se os seres humanos não arriscassem nada nunca conseguiriam avançar na vida. Estaríamos extintos [ri-se]. Arriscar é muito, muito importante para nos tornarmos independentes da nossa família, para construir a nossa identidade própria e a nossa vida... É realmente uma coisa boa.
….
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Joaquim Luís Coimbra
Joaquim Luis Coimbra - psicólogo
Jovens são realistas na hora de escolher curso
Perspetivas de emprego são muito importantes na hora de optar pelo curso certo. A vocação não é determinante e o estatuto social dado por determinados cursos, como Medicina, ainda conta
Texto de Mariana Correia Pinto publicado no P3 do Jornal Público a 20/10/2011:
Quando estão a planear o futuro, os jovens pensam cada vez mais na viabilidade do curso do ponto de vista do emprego e evitam escolhas que os conduzam a “becos sem saída”. Joaquim Luís Coimbra, da Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto, desenvolve: “Temos a geração mais qualificada da história, mas sem emprego. E isso não se deve a uma substancial falta de realismo na hora de escolher o curso”.
A sociedade atual “não é de pleno emprego” e as “pessoas tentam adaptar-se às condições” que existem. Por isso, escolhe-se não (apenas) por vocação, mas com os olhos postos no mercado de trabalho. E com "pressões sociais" ainda presentes. Medicina é um clássico: continua a ser “uma pequena ilha” quando se fala de cursos com perspetivas de emprego mais ou menos positivas.
Joaquim Luís Coimbra arrisca uma breve aula de psicologia: "O que temos concluído pela investigação é que não nascemos predestinados para nada, nascemos para um futuro aberto a múltiplas possibilidades. E, portanto, não há propriamente uma vocação". Aquilo a que habitualmente chamamos "vocação" é construído mediante as realidades com que cada pessoa se encontra, com os "campos de alternativas" que lhe são postos à frente.
O efeito da Medicina
As preferências de cada um são uma justificação válida para escolhas, mas estas fazem-se cada vez mais em campos de objetividade: o que tem mais saída profissional e o que possibilita uma posição social mais favorável.
Nesse aspeto, Medicina é um curso que dá que falar. "Produz um efeito de mobilidade social ascendente", diz Joaquim Luís Coimbra: "Estamos a atravessar um período de rápidas mudanças. Os pais de muitos jovens que estão hoje na universidade não tiveram oportunidade de aceder ao ensino superior e a ascensão dos filhos é vista como positiva. Realizam-se através deles".
É neste cenário que, não raras vezes, surgem pressões sociais que influenciam a escolha dos estudantes. "É frequente ouvirmos as pessoas exprimirem alguma admiração se um aluno brilhante não quiser ir para Medicina", lamenta o psicólogo. Na verdade, "colegas de Medicina queixam-se muitas vezes de terem estudantes muito treinados para responder a testes estandardizados" e com um "desenvolvimento cognitivo" pouco apurado. "Os que entram em Medicina são seguramente os melhores a responder ao tipo de testes propostos, o resto não se sabe".
Escolhas superficiais
Um dos motivos de insatisfação dos alunos do ensino superior tem a ver com uma escolha errada do curso. Há várias pessoas que trocam de faculdade - "Antes isso do que terminar um curso no qual não estão integrados" -, realidade que podia ser alterada se houvesse uma política que apostasse mais na "orientação vocacional nas escolas". Há países onde já se percebeu que, até do ponto de vista económico, é positivo apostar nessa área: "Criam-se profissionais mais satisfeitos com o emprego e, consequentemente, mais competentes".
Em Portugal, conclui Joaquim Coimbra, a escolha do curso é, não raramente, feita com base em "estereótipos" ou "visões muito simplificadas dos cursos e profissões ligadas a eles". A maior parte das vezes "nunca tiveram nenhum contacto com o mundo real ligado àquele trabalho e tomam decisões superficiais".
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