Joaquim Luis Coimbra - psicólogo
Jovens são realistas na hora de escolher curso
Perspetivas de emprego são muito importantes na hora de optar pelo curso certo. A vocação não é determinante e o estatuto social dado por determinados cursos, como Medicina, ainda conta
Texto de Mariana Correia Pinto publicado no P3 do Jornal Público a 20/10/2011:
Quando estão a planear o futuro, os jovens pensam cada vez mais na viabilidade do curso do ponto de vista do emprego e evitam escolhas que os conduzam a “becos sem saída”. Joaquim Luís Coimbra, da Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto, desenvolve: “Temos a geração mais qualificada da história, mas sem emprego. E isso não se deve a uma substancial falta de realismo na hora de escolher o curso”.
A sociedade atual “não é de pleno emprego” e as “pessoas tentam adaptar-se às condições” que existem. Por isso, escolhe-se não (apenas) por vocação, mas com os olhos postos no mercado de trabalho. E com "pressões sociais" ainda presentes. Medicina é um clássico: continua a ser “uma pequena ilha” quando se fala de cursos com perspetivas de emprego mais ou menos positivas.
Joaquim Luís Coimbra arrisca uma breve aula de psicologia: "O que temos concluído pela investigação é que não nascemos predestinados para nada, nascemos para um futuro aberto a múltiplas possibilidades. E, portanto, não há propriamente uma vocação". Aquilo a que habitualmente chamamos "vocação" é construído mediante as realidades com que cada pessoa se encontra, com os "campos de alternativas" que lhe são postos à frente.
O efeito da Medicina
As preferências de cada um são uma justificação válida para escolhas, mas estas fazem-se cada vez mais em campos de objetividade: o que tem mais saída profissional e o que possibilita uma posição social mais favorável.
Nesse aspeto, Medicina é um curso que dá que falar. "Produz um efeito de mobilidade social ascendente", diz Joaquim Luís Coimbra: "Estamos a atravessar um período de rápidas mudanças. Os pais de muitos jovens que estão hoje na universidade não tiveram oportunidade de aceder ao ensino superior e a ascensão dos filhos é vista como positiva. Realizam-se através deles".
É neste cenário que, não raras vezes, surgem pressões sociais que influenciam a escolha dos estudantes. "É frequente ouvirmos as pessoas exprimirem alguma admiração se um aluno brilhante não quiser ir para Medicina", lamenta o psicólogo. Na verdade, "colegas de Medicina queixam-se muitas vezes de terem estudantes muito treinados para responder a testes estandardizados" e com um "desenvolvimento cognitivo" pouco apurado. "Os que entram em Medicina são seguramente os melhores a responder ao tipo de testes propostos, o resto não se sabe".
Escolhas superficiais
Um dos motivos de insatisfação dos alunos do ensino superior tem a ver com uma escolha errada do curso. Há várias pessoas que trocam de faculdade - "Antes isso do que terminar um curso no qual não estão integrados" -, realidade que podia ser alterada se houvesse uma política que apostasse mais na "orientação vocacional nas escolas". Há países onde já se percebeu que, até do ponto de vista económico, é positivo apostar nessa área: "Criam-se profissionais mais satisfeitos com o emprego e, consequentemente, mais competentes".
Em Portugal, conclui Joaquim Coimbra, a escolha do curso é, não raramente, feita com base em "estereótipos" ou "visões muito simplificadas dos cursos e profissões ligadas a eles". A maior parte das vezes "nunca tiveram nenhum contacto com o mundo real ligado àquele trabalho e tomam decisões superficiais".
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