Foi preciso muito jeitinho e paciência para abrir a porta daquela sala. A chave original estava danificada, mas era a única que tinham. Desse por onde desse, ela tinha que abrir e lá conseguiram entrar.
O que encontraram foi um cenário pouco aconselhável a pessoas alérgicas ao pó, que abundava em cima de mesas, mobílias antigas, sofás…
- Eish, mas que raio de pirâmide egípcia é esta?!
- Realmente… dava mesmo muito jeito era uma limpezazinha aqui!
- Vou abrir aquela janela grande ali à frente, a ver se isto areja um bocado. – Disse Mari pisando corajosamente no que se podia chamar de carpete de pó. – Muito melhor agora… Wow!
Quando se voltou para trás, viu toda a sala iluminada. Era na verdade um cenário de luxo… Argh, isto se não tivesse o raio do pó!
- Teresinha, faça-me um grande favor. Pegue naquele aparelhinho que eu comprei para assoprar as folhas do pátio e use-o aqui! Abra as duas janelas para o pó sair melhor. E já agora, boa sorte! Mari, anda lá para fora um bocado enquanto a Teresinha trata do assunto aqui.
Nada lhes soube tão bem nos últimos tempos que ir à rua respirar uma vez mais aquele ar maravilhoso depois de terem experienciado entrar naquele poço de mofo. Quando olharam para a janela daquela sala tiveram mesmo que se rir da autêntica nuvem de sujidade que de lá saía. Passado algum tempo, apareceu Teresinha com o soprador de folhas.
- Ai minha senhora, aquilo estava uma javardice, era só pó a cada canto… ATCHIM! Fiquei neste lindo estado que a senhora vê, que mais pareço um bibelot da casa da minha avozinha! ATCHIM! Mas agora já está mais limpinho, já pode ir lá fazer as suas investigaçõezinhas todas que eu vou trocar de roupa e tratar do meu serviço… ATCHIM!
- Bem, parece que já temos o caminho livre, vamos lá, malta jovem!
Mais uma vez a porta abriu-se, lentamente para causar suspense.
- Muito melhor agora! – Exclamou Kris. – Bora procurar coisas interessantes!
Seguiu-se um intenso trabalho de busca do desconhecido. Gavetas foram abertas, móveis inspeccionados, as almofadas dos sofás foram tiradas…
- Vejam o que encontrei! Mais uma chave! Alguém quer tentar usar esta?
- Nem por isso, eu já encontrei algo para me entreter, provavelmente, o resto do fim-de-semana. – Disse Mari.
- O que foi? O que encontraste?
- Este livro… Deixa cá ver… “Os Mistérios Incríveis da Floresta”. Parece que conta coisas fantásticas sobre uma floresta qualquer.
- A sério Mari, queres levar o fim-de-semana a ler?!
- “E foi na esquina daquele caminho que a encontraram. Oferecia-lhes nozes e…” E falta uma página. Logo agora que a história estava a ficar interessante!
- E sobre o que é que era a história?
- Era uma história muito estranha… Talvez fosse menos se eu pudesse lê-la toda, mas enfim. Tratava de um grupo de cavaleiros que regressavam da guerra e a aldeia onde tencionavam parar para reabastecer tinha sido destruída. Como estavam esfomeados e cansados, decidiram tomar um caminho que lhes serviria de atalho para a localidade mais próxima. O enredo complica-se quando percebem que esse atalho os levava por uma floresta, a mesma floresta mencionada nas outras histórias deste livro, sobre a qual várias lendas recaíam. Eu estava a ler a parte em que eles chegam a uma esquina e estava o que subentendi ser uma rapariga que lhes ofereceu nozes… E a página seguinte está rasgada.
- Acho perfeitamente normal, querida. Os livros que aqui podemos encontrar devem ter décadas de existência, se não mesmo séculos! O que não devem faltar são páginas rasgadas por aí! Mas eu estava a ficar interessada… Pode ser que ainda a encontremos. – Respondeu-lhe Adelaide.
Um estrondo enorme levou todos os presentes na sala a voltarem-se para um dos cantos, onde Kris se encontrava.
- Ups… - Sussurrou o mesmo.
Um escadote tinha caído do tecto depois de Kris ter puxado um interruptor na parede. Ao que parecia, este caminho levaria a um sótão cuja entrada ainda não tinham descoberto. Kris foi encorajado pelos restantes a subir pelo escadote e qual o seu espanto quando viu que num compartimento com altura suficiente para andar livremente lá dentro estavam toneladas de livros em nada com aspecto de serem velhos. Na verdade, alguns pareciam ser bastante recentes ou teriam estado em perfeitas condições de preservação. Pouco bastou até Mari, Catarina e Adelaide subirem também e começarem a folhear os livros.
- É inacreditável, parece que estes livros são antigos… Mas vejam a qualidade do papel! Peguem nalguns e levem-nos para os lermos, de certeza que são interessantes.
- Oh não, tia! Também você quer passar o fim-de-semana a ler?!
- Catarina, tu ainda não conheces as noites aqui no palácio! Eu adoro ir para o pátio ler, é extremamente relaxante e agradável! De certeza que vais gostar.
- Bem… Se for à noite TALVEZ eu até me entretenha um bocado. Enfim, o que vamos fazer a seguir?
- Por acaso… Explorar isto é muito divertido mas não quando temos um dia maravilhoso lá fora! Bora passear! – Sugeriu Kris.
- Boa ideia, vamos.
LUIS FILIPE R.C.LEÃO