Projecto da Associação para o Planeamento da Família quer aproveitar a proximidade dos mais novos à
Internet. No computador, no tablet
ou no telemóvel. Independentemente da hora do dia ou do local, a ideia do novo Jogo online # ON_Sex é
garantir que os jovens estão preparados para lidar com os vários temas à volta
da sexualidade, desde o planeamento familiar, à saúde reprodutiva e a questões
mais complexas como o género e a violência de género. O jogo, que foi
apresentado esta quarta-feira e está na fase de revisão final, faz
parte de um projecto com o mesmo nome liderado pela Associação para o
Planeamento da Família (APF), dedicado aos Direitos Sexuais e Jovens
Vulneráveis. Colocar um preservativo passo a passo, saber que o VIH não é transmitido
por beijos e avaliar se aceitável forçar um parceiro a ter relações sexuais são
algumas das actividades didácticas que testam o jogador.
O projecto da APF, feito
em parceria com a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova
de Lisboa (FCSH-UNL), o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) e o
Programa Escolhas, e financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, começou em
Março de 2014 e chegou à sua fase final. Agora, a ideia é colocar em prática
alguns dos produtos que resultaram do trabalho como o jogo #ON__Sex e também um
manual que sugere actividades para concretizar no terreno com jovens deste
programa, mas também em qualquer outro contexto educativo.
O principal objectivo é
aproveitar a proximidade dos mais novos à Internet e às redes sociais e
utilizar estes meios como “ferramentas privilegiadas para a educação sexual,
promoção dos direitos e prevenção do bullying digital”.
A ideia tem como base dados como os do estudo EU
Kids Online, que concluiu que as crianças portuguesas lideram o
acesso à Internet e que as crianças e famílias mais desfavorecidas são as mais
afectadas pelos riscos da presença online. Além disso, segundo o mesmo estudo,
a violência sexual associada aobullying digital,
de que é exemplo a discriminação de género e a homofobia, são frequentes na
vida dos jovens.
Quando o jogo estiver
finalizado, será
disponibilizado online para
todos os que quiserem, ainda
que a principal divulgação esteja a ser feita junto das associações e dos
monitores que trabalham para o Programa Escolhas, que desde 2001 se dedica a
promover a inclusão social de crianças e jovens de contextos socioeconómicos
vulneráveis. Mais de cem pessoas já receberam formação sobre o tema.
“A sexualidade, mais do
que uma necessidade, é um direito”, sintetiza Sónia Lopes, psicóloga da APF e
uma das coordenadoras do jogo. Segundo a responsável, a plataforma estará
preparada para que os jovens possam voltar e continuar o que deixaram a meio —
com umas barras a indicar a percentagem já concluída para tornar “o desafio
palpável e conquistável”. Os resultados também vão poder ser partilhados
por email e
por Facebook, para incentivar os participantes e atrair mais interessados. “É o
jovem que mostra aos monitores que conseguiu superar algumas etapas. Tem de ser
ele a querer dar esse passo”, adianta a psicóloga. A ideia é ir analisando a
participação e os resultados dos intervenientes para introduzir melhorias na
plataforma e nos exercícios.
Além do jogo, o projecto
conta também com o Manual
de Sugestões de Actividades Digitais #ON__Sex, da autoria da também
psicóloga da APF Sónia Araújo. O manual destina-se não directamente aos jovens,
mas sim aos monitores que preparam actividades nesta área e, por isso, parte
directamente para propostas de exercícios sem passar pela fase da explicação de
conceitos, como acontece no jogo. A ideia é criar momentos de reflexão com base
em casos práticos com os quais os participantes se deparam no dia-a-dia.
Por exemplo, uma das
actividades começa ao som da música Love
the Way You Lie, de Rihanna, que serve de mote ao tema da violência
no namoro. Nas indicações, sugere-se que o grupo seja questionado sobre o
significado da letra e sobre o papel da mulher e do homem nesta relação
violenta. Pretende-se também que os jovens falem sobre o que consideram ser
violência no namoro e sobre as dificuldades de sair de situações assim. São
também disponibilizados links para
entrevistas que a cantora deu sobre a situação que viveu, para incentivar os
participantes a colocarem-se na perspectiva da vítima.
“Em vez de encararmos a
Internet como um potencial risco — que é —, no fundo, este manual pretende ir
buscar esse recurso para em vez de o encarar como foco do problema o encarar
como um foco de resolução”, sublinha Sónia Araújo. O manual tem um total de 51
actividades organizadas por sete temas que vão dos comportamentos sexuais à
gravidez e parentalidade, passando por questões como a orientação sexual. Os
títulos são sugestivos e pretendem atrair a atenção dos envolvidos. “A Maria e
o António”, “I have sex”, “Direito a não querer ser mãe” e “Coming out” são
alguns dos exemplos.
Fonte: Romana Borja-
Santos 02/12/2015 Jornal Publico