Entrevista de Andreia Cunha Freitas à neurocientista britânica Sarah-Jayne Blakemore que saiu no Jornal Publico a 10 de Dezembro de 2017:
“É possível mudar o cérebro dos adolescentes. O que é bom e mau”
Os
adolescentes precisam de ser “assim”, como são. De se afastarem dos pais, de se
aproximarem dos amigos, de correrem mais riscos. Precisam de exercitar a
autonomia, treinar a independência. É uma necessidade biológica adaptativa,
constata a neurocientista Sarah-Jayne Blakemore, que estuda o (cada vez menos)
misterioso mundo do cérebro do
Adolescente.
A neurocientista britânica Sarah-Jayne
Blakemore costuma contar uma história para mostrar uma das muitas diferenças
entre crianças e adolescentes. Quando os mais pequeninos se irritam, podemos
tentar acalmá-los sugerindo cantar a sua canção favorita. E, muitas vezes, isso
resulta. Para os adolescentes, esta estratégia pode ser usada em sentido
contrário, constituindo nada mais, nada menos do que uma ameaça. “Ou paras de
fazer isso ou canto aqui a tua canção favorita” é uma frase capaz de os travar
pela vergonha.
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Quando chegam à adolescência, os filhos
afastam-se dos pais, aproximam-se do seu grupo de pares, correm mais riscos,
são impulsivos. Além das hormonas, do ambiente e da genética, o seu cérebro
está a mudar. Pode parecer óbvio, mas a descoberta de que o cérebro continua a
desenvolver-se durante a adolescência, e não apenas durante os primeiros cinco
anos de vida, é recente.
Uma boa parte dos créditos por esse
conhecimento sobre a plasticidade do cérebro adolescente pertence à
investigadora do University College de Londres que esteve em Lisboa numa
conferência, organizada pela Fundação Manuel dos Santos, em homenagem a João
Lobo Antunes, para falar sobre “O cérebro adolescente”. Graças às novas
tecnologias que nos permitem espreitar para este misterioso mundo, sabemos hoje
que é possível mudar o cérebro dos adolescentes. Mas ainda sobram muitas
perguntas que nos podem ajudar a perceber como e o que fazer para um final
(adulto) feliz. Numa entrevista ao P2, a cientista fala sobre o que aprendemos
com as imagens cerebrais que denunciam as diferentes estratégias cognitivas
nesta conturbada fase da vida. Ficam também alguns conselhos simples. É preciso
que todos (pais e filhos) saibam que esta é uma fase de mudança e que é
transitória. Recomenda-se ainda uma boa dose de paciência. Tanta (ou mais) como
a que tivemos quando eles eram crianças.
O que mudou nos últimos anos sobre o que
sabemos dos adolescentes?
Até há cerca de 20 anos havia muita coisa que não sabíamos sobre o cérebro dos
adolescentes. Não tínhamos a tecnologia para olhar para dentro de um cérebro
humano a funcionar e perceber como muda ao longo da vida. Não sabíamos quando o
cérebro parava de se desenvolver. Nos últimos 20 anos, os cientistas têm sido
capazes de usar técnicas como a ressonância magnética, funcional e estrutural,
para despistar mudanças no cérebro de crianças e adolescentes. Essa
investigação, que está a ser feita em todo o mundo, já mostrou que o cérebro
não pára de se desenvolver na infância, mas, na verdade, continua a
desenvolver-se, em termos de estrutura e funções, ao longo da vida. Durante a
infância e também durante a adolescência e no princípio da fase adulta.
Esse processo de desenvolvimento explica
o comportamento de um adolescente? Correr riscos, afastar-se dos pais, ser
influenciado sobretudo pelos seus pares.
Provavelmente. Até sabermos que o cérebro continua a desenvolver-se na
adolescência, todos estes comportamentos típicos dos adolescentes eram
atribuídos a alterações hormonais, mudanças no ambiente, sociais, esse tipo de
factores. Agora percebemos que as mudanças de comportamento na adolescência são
causadas por uma combinação de factores diferentes, incluindo mudanças muito
substanciais no cérebro.
E o que podemos fazer com esse
conhecimento?
É útil perceber que correr riscos, a consciência de si mesmo, a influência dos
pares e a impulsividade, que são comportamentos mais evidentes na adolescência
comparando com outras idades, acontecem por razões biológicas, adaptativas. Não
é nada que os adolescentes tenham possibilidade de controlar. São coisas que
precisam de fazer e o seu cérebro está a mudar de uma forma que permite que as
façam. Estes comportamentos provavelmente coincidem com pressões evolutivas
para que se tornem independentes dos pais, para explorar o ambiente que os
rodeia, correr riscos, experimentar, para se ligarem aos seus pares, ao seu
grupo, para que, eventualmente, muitos anos depois se tornem adultos
independentes.
Mas podemos ajudá-los ou resta-nos ser pacientes?
Somos pacientes com as crianças, permitimos que se desenvolvam. Eu tenho dois
filhos. Sei que permitimos que façam tolices, tomem decisões tolas,
ajudamo-los, sentimos empatia, não esperamos que sejam completamente
independentes e que tomem excelentes decisões para eles próprios. Precisamos de
fazer isso com os adolescentes. É a mesma coisa. Eles também estão a passar por
mudanças substanciais do seu desenvolvimento cognitivo. Como adultos, colocamos
muito mais pressão e expectativas nos adolescentes do que nas crianças
pequenas. Talvez porque os adolescentes se pareçam com adultos. Esperamos que se
comportem como adultos e que tomem boas decisões e que sejam capazes de
planear; todo o tipo de comportamentos que, na verdade, sabemos que ainda estão
em desenvolvimento.
Por vezes,
as coisas correm mal nesta altura da vida, seja na escola seja noutro tipo de
situações mais graves, que envolvem crimes, drogas ou álcool. Como cientista,
acredita que é possível interferir neste processo de desenvolvimento e, assim,
prevenir ou reabilitar estes casos problemáticos?
Sim. As neurociências já mostraram que o cérebro dos adolescentes tem muita
plasticidade, é possível mudá-lo. O que é bom e mau, ao mesmo tempo. É mau
porque significa que, se o cérebro está a mudar na adolescência, os
acontecimentos stressantes no ambiente que os rodeiam podem ser uma má influência
para o desenvolvimento do cérebro. Mas também existe aqui uma oportunidade.
Na área da
educação e da reabilitação?
Sim, é uma potencial oportunidade em que intervenções, aprendizagens,
reabilitações terão um grande impacto, porque o cérebro ainda é maleável. Muito
maleável. Se tivermos um adolescente que não teve muito bons resultados na
escola primária, por exemplo, não é demasiado tarde para esperar uma mudança. O
cérebro ainda se está a adaptar e a aprender.
Encontrou
diferenças entre rapazes e raparigas?
Na verdade, não. Os estudos iniciais sobre o desenvolvimento cerebral sugeriam
uma diferença de género. Isso foi há 17 anos. Desde essa altura, estudos com
mais participantes, apoiados em técnicas de imagem com mais qualidade e
melhores técnicas de análise, mostraram que, na verdade, essas diferenças de
género não existem de forma evidente.
Mesmo
olhando para fenómenos como a diminuição da matéria cinzenta e o aumento da
matéria branca do cérebro que já se percebeu que ocorrem neste período da adolescência?
Sim, é quase a mesma coisa nos rapazes e nas raparigas. Acho que isso faz
sentido, porque, mesmo que estejam lá, há tanta sobreposição entre os dois
géneros que é muito difícil ver diferenças nas médias.
Então não
há razão para dizer que as raparigas “crescem” mais rapidamente, são mais
sensatas, mais “adultas”?
Essa é uma grande questão. Há tantos estereótipos de género nas culturas.
Isso é um
estereótipo?
Não sei. Mas não há provas científicas que mostrem que isso não passa de um
estereótipo. Embora, por outro lado, se saiba que há diferenças de género, por
exemplo nas doenças mentais. A seguir à puberdade, a depressão é mais comum nas
raparigas do que nos rapazes. O mesmo pode dizer-se para os distúrbios
alimentares e automutilações. As adições, por outro lado, são ligeiramente mais
comuns em rapazes do que em raparigas. Ou seja, há diferenças entre géneros,
mas é muito difícil saber por que é que elas existem. Se isso é o resultado de
diferenças hormonais... acho que parcialmente será por causa das hormonas,
porque as diferenças de género revelam-se na puberdade, quando as hormonas
estão a mudar.
Mas também
pode ser, em parte, por causa das expectativas. As expectativas sociais para as
mulheres são muito diferentes das que existem para os rapazes. Podemos ver isso
de forma clara nos distúrbios alimentares, que, já agora, estão a tornar-se
mais comuns nos rapazes. Mais uma vez julgo que isso acontece porque a
sociedade está a colocar mais pressão e expectativas na imagem que os rapazes
devem ter: musculados, bronzeados, e essas coisas. Mas há mais pressão nas
raparigas do que nos rapazes. Sobretudo na sua aparência.
Estas
descobertas sobre o cérebro dos adolescentes são recentes e, por isso, é
impossível fazer comparações. Porém, acredita que este mundo de informação,
tecnologias, redes sociais, jogos de computador, novas formas de comunicar, que
envolve os adolescentes de hoje, está a mudar o seu cérebro?
Não sabemos, não temos essas informações, mas sabemos que o ambiente muda o
cérebro. Sabemos que isso acontece na adolescência. Então, parece-me lógico
assumir que passar muito tempo em frente de um ecrã nas redes sociais, nos
jogos de computador, funcionará como um input ambiental.
Portanto, provavelmente, vai influenciar o desenvolvimento do cérebro. No
entanto, o mais importante é saber se isso é bom ou mau. Se isso danifica o
cérebro ou não. E isso não sabemos. É importante lembrar que, para cada tempo e
nova tecnologia que surgiram, se olharmos, por exemplo, para a televisão,
rádio, imprensa escrita, mesmo recuando até à invenção da escrita, os adultos
dessas gerações também se preocuparam com as consequências destas tecnologias
nas mentes dos mais jovens. Platão, por exemplo, tem citações muito
interessantes sobre o impacto da escrita. Ele diz que a escrita iria destruir
as memórias dos mais jovens, porque eles já não iriam precisar de se lembrar de
nada, porque tudo estaria escrito. Portanto, não devemos entrar em pânico sem
conhecer exactamente as provas científicas sobre como os ecrãs estarão a
afectar o desenvolvimento do cérebro. Actualmente, não temos essas provas.
A sua
investigação nesta área começou pelas doenças mentais, mais precisamente pela
esquizofrenia, sabendo que muitas delas se manifestam na adolescência. Ainda
está à procura dos “gatilhos” destas doenças no cérebro dos adolescentes?
Não estou a trabalhar nisso. Estou a trabalhar ainda no desenvolvimento típico
do cérebro dos adolescentes. Ainda há muitas perguntas sem resposta sobre isso.
Mas há outros investigadores que estão a procurar neuroprecursores de doenças
mentais. Esses estudos ainda estão no início, mas há algumas indicações que
mostram que o cérebro se desenvolve de forma diferente, na sua estrutura e
funções, em adolescentes que acabam por desenvolver esquizofrenia ou outras
doenças mentais.
Do que
está à procura no cérebro dos adolescentes?
Estamos a olhar para a plasticidade do cérebro e a tentar perceber se é
particularmente bom a aprender certos tipos de informação na adolescência. Se é
um período especial para a aprendizagem.
Recentemente
foi publicado um artigo por membros da sua equipa sobre as capacidades para a
matemática. É esse tipo de estudos que estão a fazer?
Sim. Mostrámos que o raciocínio não verbal, relacionado com a matemática, acaba
por ser mais bem apreendido na adolescência mais tardia do que na inicial. Isso
contradiz o que a maioria das políticas educativas defende, acreditando que
este tipo de aprendizagem diminui com a idade.
O início
da adolescência tem um marco biológico que é o início da puberdade. Costuma
dizer que está estabelecido que o fim da adolescência acontece quando aquele
indivíduo conquista um papel independente na sociedade. O que, na sociedade em
que vivemos, pode significar os 30 anos. Não há nenhum marco na evolução do cérebro
que possa servir para separar os adolescentes dos adultos?
Não sabemos quando é que o cérebro se torna adulto. Julgo que será diferente
para cada pessoa. Há uma série de regiões do cérebro que param de mudar em
idades diferentes. Um dia poderemos ter um neuromarcador para quando o cérebro
se torna adulto. Porém, neste momento, ainda não temos.
Mencionou
a influência das hormonas, do ambiente social, entre outros factores, no
desenvolvimento do cérebro dos adolescentes. E a genética?
A genética, obviamente, interage com o ambiente e influencia o desenvolvimento
do cérebro. Já há alguns trabalhos que mostram isso. Por exemplo, a
esquizofrenia é mais comum em jovens que são emigrantes, que se mudaram para
diferentes populações e sociedades, e mais comum em jovens que fumam
muita cannabis.
Mas isso só é verdade para as pessoas que têm uma predisposição genética para a
doença. Assim, o ambiente pode funcionar como um “gatilho” para o factor de
risco genético.
O que pode
dizer aos pais que têm ou vão ter adolescentes em casa que possa ajudá-los a
lidar com esta fase?
Acredito que é muito útil ajudar os pais e os adolescentes a perceber as
mudanças que eles estão a atravessar e explicar-lhes a ciência que está por
detrás destas mudanças. Trabalhei com muitos adolescentes que acharam muito
útil o que descobriram sobre o seu cérebro. Lembro-me de ser adolescente e sei
que teria sido útil saber o que se estava a passar no meu cérebro e, sobretudo,
saber que isso não iria durar para sempre.
Isso não é
dar-lhes uma desculpa? Eles podem fazer o que quiserem justificando apenas que
é o cérebro que está a mudar.
Talvez, mas essa desculpa serve para todos nós. Tudo o que fazemos é causado
pelo nosso cérebro. Todos podemos fazer coisas más e dizer, bem, não fui eu,
foi o meu cérebro. Na verdade, acho que os ajuda saber estas coisas. Dá-lhes a
garantia, que os pode tranquilizar, de que esta fase é transitória e que está a
acontecer por uma razão, e que não são só eles que estão a passar por isso.
Foi uma
adolescente difícil?
Acho que não fui muito difícil, era uma adolescente típica. Fiz tudo o que o
adolescente normalmente faz. Era muito ligada aos meus amigos, corri riscos que
hoje não correria, tomei algumas más decisões e esse tipo de coisas. Lembro-me
que era muito ligada à música e à moda. Aliás, a ligação à música é muito comum
no período da adolescência. Curiosamente, a música que ouvimos nessa altura é
algo que continuamos a gostar de ouvir mais tarde. Não tudo, mas uma parte. Há
um lugar especial da música na adolescência.
A música
poderia ser uma boa ferramenta para trabalhar e perceber o desenvolvimento do
cérebro? Se colocássemos um adolescente a ouvir heavy metal durante um ano
inteiro e outro a ouvir música clássica, podíamos ver diferenças no
desenvolvimento do cérebro?
É um bom exemplo de uma experiência hipotética que, infelizmente, por razões
óbvias, não podemos fazer. Se começássemos com um grupo de adolescentes
exactamente iguais, com os mesmos antecedentes socioeconómicos, a mesma escola,
o sítio onde vivem, o mesmo QI, o género e tudo o resto, e fizéssemos uma
experiência, dividindo-os em dois grupos, expondo um a música clássica e outro
a música pop, durante um ano, uma hora por dia... sim. Eu estaria à espera de
ver diferenças no cérebro destes adolescentes, ainda que fosse com
manifestações muito subtis. Não seria uma surpresa para mim. Algo que também
poderia traduzir a forma como a música os fez sentir.
A
influência das drogas e do álcool será mais fácil de observar?
É outro tipo de experiências que não podemos fazer, por razões éticas. O que
alguns investigadores procuram fazer é olhar para as diferenças no
desenvolvimento entre grupos de crianças que beberam muito álcool e outros que
não beberam, ou que fumaram muita cannabis e
outros que não o fizeram, mas não é uma experiência, é uma observação.
Um dos
projectos (MYRIAD) em que está envolvida visa o desenvolvimento de programas
escolares apoiados no treino de mindfulness para
adolescentes e professores. Essa é uma experiência que já se pode fazer?
Sim, tivemos de passar por procedimentos éticos muito cuidadosos e assegurar
que vamos monitorizar estas crianças para detectar qualquer possível efeito
negativo. Estamos confiantes de que não vamos ter efeitos negativos, mas vamos
estar atentos. Aliás, esperamos que a meditação mindfulness tenha
efeitos positivos, com a sensação de bem-estar e menos pressão nos adolescentes
que vão receber este treino. Mas ainda não começámos este estudo. Vai durar
sete anos e foi conseguido pela Universidade de Oxford (no Reino Unido), eu sou
apenas uma das colaboradoras.
Estas
tecnologias que nos permitem ver o que se passa dentro do cérebro também têm as
suas limitações. Há muitas coisas que acontecem e que uma ressonância magnética
não mostra, certo?
Certo. A ressonância dá-nos informação sobre o desenvolvimento do cérebro, mas
não nos mostra o que acontece a um nível celular. Assim, vemos que a matéria
cinzenta e a branca estão a mudar no cérebro ao mesmo tempo, mas não sabemos
por que é que isso acontece, o que é que está a acontecer a um nível celular,
nos neurónios e nas sinapses. A ressonância não tem a resolução para nos
mostrar as informações a esse nível. Estamos à espera dessa nova tecnologia,
mas ainda vai demorar muitos anos.
Mas já foi
possível perceber, por exemplo, que a percepção do outro é muito diferente
entre adolescentes e adultos. Usam estratégias diferentes?
Sim. Quando pensam nas outras pessoas, e nas suas perspectivas e emoções, os
adolescentes usam a mesma rede de regiões cerebrais que os adultos. Porém, o
padrão de actividade é diferente. É a denominada “rede social do cérebro”. Os
adultos usam a parte do córtex pré-frontal menos do que os adolescentes; e usam
a região temporal mais do que os adolescentes. A actividade nas regiões
pré-frontais diminui com a idade durante a adolescência, e a actividade na
região temporal aumenta. Usam as mesmas regiões, mas os níveis de actividade
são diferentes nestas redes.
Hoje
sabemos muito mais sobre o cérebro dos adolescentes do que há 20 anos, como
disse, mas os adolescentes ainda são um mistério?
Há muito menos mistério do que já houve, e o conhecimento destas mudanças no
cérebro contribui para isso.
Quais são
as questões em aberto mais importantes para si?
As diferenças individuais. Como é que a cultura, o ambiente, a nutrição, o
exercício físico, o tempo passado no ecrã, o ambiente social... como é que
todas essas coisas afectam o desenvolvimento do cérebro na adolescência.
Sabemos que devem afectar, mas não sabemos como. Outras questões: por que é que
alguns adolescentes desenvolvem doenças mentais e outros não? Por que é que
alguns correm muitos riscos e outros nem tanto? São questões importantes sobre
diferenças individuais. Até agora, o campo do desenvolvimento cerebral na
adolescência tem estado muito focado em médias. Agora temos de começar a olhar
para as diferenças entre indivíduos e o desenvolvimento do cérebro.
Mas será
sempre o resultado de muitos factores.
Claro. O ambiente social muda de uma forma tremenda durante a adolescência, e
as hormonas, e também a forma como os pais e a sociedade tratam os
adolescentes. Eles permitem mais independência e liberdade. Todas estas coisas
vão contribuir para o desenvolvimento dos adolescentes, para o seu
comportamento e da sua mente.
Tem dois
filhos pequenos. Está com medo da adolescência que vem aí?
Não, não, não, não! Os meus filhos estão prestes a tornar-se adolescentes, um
tem 12 anos e meio e outro 10 anos e meio. Acho que é realmente um momento
emocionante. É um tempo em que desenvolvem o sentido de si mesmos, a sua
identidade de uma forma mais profunda.
Isso não
será porque é cientista? Está entusiasmada com a ideia de fazer investigação em
casa?
(risos) Talvez. Mas, mais uma vez, insisto que ajuda saber o que se passa no
seu cérebro. Às vezes, quando um adolescente está mal-humorado, é rude ou mesmo
se revolta contra nós, é muito difícil para os pais. Estamos habituados a que
façam o que dizemos e que nos tomem como exemplo e, de repente, eles não estão
a fazer nada disso. Mas saber que essa é uma parte muito importante do seu
desenvolvimento e da sua independência, é útil. Eles precisam de experimentar e
exercitar a independência, a autonomia, a tomada de decisões. Eles precisam de
ser um pouco rebeldes contra os seus pais.
Por que é
a influência dos pares tão importante na adolescência?
É uma forma de se filiarem num grupo e se tornarem gradualmente independentes
dos seus pais, e mais integrados numa rede social própria, com uma hierarquia
social. Eles precisam de ser independentes. Como nós também precisámos um dia.
Os
adolescentes ainda a podem surpreender, como cientista?
Sim. A vastidão das diferenças individuais é muito interessante. Embora, no
fundo, isso não seja assim tão surpreendente, porque todos somos diferentes.