Artigo de Clara Viana que saiu no Jornal Publico a 17 de
fevereiro de 2020 com o título “Alunos e professores já são diferentes quando
pensam por si próprios”:
Chrysi Rapanta é investigadora da Universidade Nova de Lisboa e uma das
responsáveis, em Portugal, pelo projecto europeu Diálogo e argumentação
para a aquisição de Literacia Cultural nas escolas (DIALLS na sigla em
inglês), em que participam mais de 600 alunos portugueses do pré-escolar ao
secundário.
“Senti uma certa resistência dos professores,
e consequentemente dos alunos, em mudar hábitos pedagógicos, ainda que os
mesmos não sejam produtivos”, admite Chrysi Rapanta, uma das responsáveis, em
Portugal, pelo projecto europeu Diálogo e argumentação para a aquisição de Literacia Cultural nas
escolas.
Encontrou características específicas no
modo como as escolas e os alunos portugueses estão a participar neste projecto
europeu por comparação aos de outros países?
Nesta fase, a nossa equipa de investigação, liderada pelo professor Fabrizio Macagno da NOVA FCSH, encontra-se a desenvolver um método de análise de diálogo que pretende operacionalizar o discurso empático como estratégia de uma comunicação inclusiva (que integra a perspectiva do outro) e respeitosa (com capacidade para compreender o outro). Ainda não podemos dizer nada acerca da mudança, ou não, dos alunos portugueses ao participar neste projecto. No entanto, parecem-me já bastante receptivos à diferença. Quando perguntei a alguns adolescentes com que país participante no projecto gostariam de colaborar na última fase das sessões, responderam: “Quanto mais diferente, melhor!”. Oxalá esta abertura à diferença também os acompanhe na sua vida adulta porque estamos, cada vez mais, a precisar dela…
Nesta fase, a nossa equipa de investigação, liderada pelo professor Fabrizio Macagno da NOVA FCSH, encontra-se a desenvolver um método de análise de diálogo que pretende operacionalizar o discurso empático como estratégia de uma comunicação inclusiva (que integra a perspectiva do outro) e respeitosa (com capacidade para compreender o outro). Ainda não podemos dizer nada acerca da mudança, ou não, dos alunos portugueses ao participar neste projecto. No entanto, parecem-me já bastante receptivos à diferença. Quando perguntei a alguns adolescentes com que país participante no projecto gostariam de colaborar na última fase das sessões, responderam: “Quanto mais diferente, melhor!”. Oxalá esta abertura à diferença também os acompanhe na sua vida adulta porque estamos, cada vez mais, a precisar dela…
Tem estado em muitas escolas, assistido
a muitas aulas dos diferentes níveis de escolaridade. Um aspecto positivo e
outro negativo que tenha retido desta observação/participação?
Senti uma certa resistência dos professores, e consequentemente dos alunos, em mudar hábitos pedagógicos, ainda que os mesmos não sejam produtivos. A insistência nos métodos de ensino expositivos, com pouca ou nenhuma interacção dialógica por parte dos alunos, é um exemplo disto. Atenção: as respostas dos alunos às perguntas do professor, em que só há uma resposta correcta, não é diálogo! Por outro lado, estes mesmos professores quando aprendem a inovar, não querem parar! Alguns professores trabalham comigo desde 2016. Eles aprendem comigo o que a investigação internacional traz para a pedagogia e eu aprendo com eles o que é estar todos os dias, durante 25 ou 30 anos, a formar novos cidadãos. Não é fácil. Admiro-os imenso!
Senti uma certa resistência dos professores, e consequentemente dos alunos, em mudar hábitos pedagógicos, ainda que os mesmos não sejam produtivos. A insistência nos métodos de ensino expositivos, com pouca ou nenhuma interacção dialógica por parte dos alunos, é um exemplo disto. Atenção: as respostas dos alunos às perguntas do professor, em que só há uma resposta correcta, não é diálogo! Por outro lado, estes mesmos professores quando aprendem a inovar, não querem parar! Alguns professores trabalham comigo desde 2016. Eles aprendem comigo o que a investigação internacional traz para a pedagogia e eu aprendo com eles o que é estar todos os dias, durante 25 ou 30 anos, a formar novos cidadãos. Não é fácil. Admiro-os imenso!
Acredita que alunos e professores
chegarão diferentes ao fim do projeto DIALLS?
Como o DIALLS não segue um desenho experimental, é difícil falar em ‘diferença’ do ponto de vista científico. No entanto, e pela minha experiência, alunos e professores são já diferentes no momento em que começam a pensar por si próprios.
Como o DIALLS não segue um desenho experimental, é difícil falar em ‘diferença’ do ponto de vista científico. No entanto, e pela minha experiência, alunos e professores são já diferentes no momento em que começam a pensar por si próprios.
Este pensar por si próprio não
é um dado adquirido, nem sequer para os professores, porque eles também são
vítimas de um sistema educativo que não emancipa, mas escraviza o pensamento.
Os professores que se comprometem a implementar métodos inovadores, a
partilhar, a participar numa comunidade de prática e a pensar em actividades
que estimulam a participação, já são diferentes. Por outro lado, isto tem uma
projecção simultânea nos alunos, pois sentem que os professores se interessam
em ouvir o que têm a dizer, sentindo-se únicos e com oportunidades de se
relacionarem, construtivamente, uns com os outros. Estes alunos já são
diferentes porque se sentem melhor, mais amados e aceites na sua diversidade.
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