Um enxerto do artigo de Carla Ribeiro que saiu no jornal Publico de hoje com o título:
"Um caso mediático pode servir
para aumentar as denúncias, “independentemente
do género" a propósito do julgamento de Johnny Depp e Amber Heard
A estratégia do agressor para o psiquiatra João Redondo, da Unidade de Violência Familiar, faz todo o sentido deixar
de lado o discurso do bom e do mau, destacando que “trabalhar apenas a vítima
pode ser arriscado”, sendo imperativo para que se chegue a bom porto, um
trabalho profundo também com o agressor. E, no caso que fez manchetes um pouco
por todo o mundo, mais relevante do que decidir qual dos dois actores terá sido
agressor e qual o agredido, ou se a violência foi bidireccional, o clínico
realça que importa observar que ambos relataram uma infância problemática e
descreveram abusos que sofreram em contexto familiar. “O ambiente onde as pessoas crescem vai desde potencialmente poder alterar
estruturas cerebrais, até digamos, no extremo, activar e desactivar genes”, diz João Redondo. Isso não significa que alguém que
sofra maus tratos na infância venha a ser um agressor, mas as probabilidades
aumentam. “Os nossos cérebros são esculpidos pelas nossas primeiras
experiências”, diz, citando o investigador norte-americano Martin Teicher, num
estudo de 2000 sobre a redução do volume do hipocampo na perturbação de stress
pós-traumático: “Os maus tratos são um cinzel que modelam o cérebro para lidar
com conflitos, mas à custa de profundas feridas duradouras.” E o impacto é
tanto maior quanto menor for a idade da vítima, como reforça Renata Benavente:
“A criança pode não se lembrar (as primeiras memórias são dos 3 ou 4 anos) mas
os acontecimentos moldam e influenciam os comportamentos futuros.” Daí que João
Redondo se centre na “importância da saúde, das famílias e das relações”,
considerando imperativo que se aposte na prevenção. Isso não significa que se
desista de corrigir as relações desequilibradas, e, aponta o clínico, “quando
se faz o historial violência, importa perceber quem é que, ao longo desse
historial, quer manter o controlo e o poder sobre quem” para identificar quem é
a vítima e o agressor. Quanto a quem agride, o psiquiatra explica que “o medo é
a estratégia do agressor”, enquanto a vítima, regra geral, exibe “vergonha” e
“culpa”
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