Ensino Profissional: Um balanço positivo
Nuno Albano tem um curriculum abrangente com experiência profissional, para além do ensino, em televisão e rádio. Em termos escolares, detém duas licenciaturas em Engenharia Eletrónica e de Computadores e em Engenharia Química e está prestes a terminar o seu mestrado. É atualmente professor do ensino profissional na Escola Secundária Marquês de Pombal, em Lisboa, e é adepto do trabalho por projeto, do reconhecimento pelo mérito e da "competição saudável baseada em trabalho, numa perspetiva profissional".
O dinamismo, a proximidade aos alunos e a pro-atividade são qualidades que saltam à vista quando falámos com este professor, no mês em que se comemorou o Dia do Professor.
ANQEP: Há quanto tempo leciona?
Nuno Albano (NA): Comecei no ensino regular em 1992. Depois, já na década de 2000, comecei no ensino profissional, numa escola pública e, simultaneamente, numa profissional. Essa experiência dá-me a perspetiva dos dois lados. No ensino público leciono desde sempre dois cursos ligados à informática, que é o técnico de gestão de equipamentos informáticos e principalmente o de técnico de multimédia.
ANQEP: Este ano, está a lecionar que anos?
Nuno Albano: Este ano leciono, como é habitual, o 10.º e o 12.º anos de multimédia (uma disciplina em cada ano) e também o 11.º e o 12.º anos de gestão de equipamentos informáticos.
ANQEP: Consegue ter um acompanhamento dos alunos desde o início até ao final do curso?
Nuno Albano: Vejo os meus alunos entrarem com uma determinada postura e vejo-os sair, até porque, muitas vezes, eles vêm cá tirar dúvidas depois de acabarem os cursos. É muito engraçado, mantêm algum tipo de relacionamento e eu vejo a sua evolução profissional, o que é uma das partes boas disto: ver que há gente bem-sucedida que passou pelas nossas mãos.
ANQEP: A escola, para além dos conteúdos ministrados em termos curriculares, aposta noutras áreas ou projetos?
Nuno Albano: Sim. A nossa filosofia é esta: os conteúdos são programáticos, são obrigatórios, têm de ser dados. Depois, na maneira como são dados, o próprio programa dá-nos alguma liberdade. Então o que se tenta fazer são projetos sempre virados para o exterior. Não fazemos trabalhos académicos mas sim trabalhos que são utilizados na prática, lá fora. Por exemplo as juntas de freguesia aqui à volta têm uma comissão social inter-freguesias através da qual desenvolveram um programa de transporte social para idosos - o "transporte solidário" - e precisavam de um filme de divulgação. Este filme foi feito pelos nossos alunos e depois foi apresentado no Padrão dos Descobrimentos. Depois do acontecimento a reportagem também é feita por eles e transforma-se num novo produto. Por isso estamos sempre a fazer mais qualquer coisa.
Agora estamos a fazer um dvd, para o Regimento de Lanceiros II. Estamos a fazer um dvd da história e missão da unidade que ser-lhes-á entregue em novembro. Posteriormente, vamos trabalhar com mais alguém.
ANQEP: E a motivação dos alunos, o que é que nota quando estão envolvidos nesses projetos?
Nuno Albano: Acredito sinceramente que os meus alunos ganham muito em ter uma noção do trabalho para um cliente. Não estão a ter uma aula de três tempos onde apenas se executa mais um trabalho em Photoshop. Estamos a fazer um trabalho para alguém, com tempos, com reuniões.
Tenho alunos a coordenar reuniões. Às vezes até se aborrecem quando o parceiro não entrega os conteúdos a tempo. No ano passado tive alunos a apresentar um projeto numa universidade. Também já conseguimos projetos internacionais. Temos um, no âmbito do Comenius, a decorrer. Há dias recebemos alunos de uma série de países e os nossos alunos vão brevemente à Roménia. No ano passado, estiveram na Turquia. A escolha de quem vai e para onde vai é sempre baseada no mérito. A ideia é termos aqui uma competição, espero que saudável, mas baseada em trabalho e numa perspetiva profissional.
ANQEP: Qual o papel dos professores nestes projetos e sua relação com os alunos?
Nuno Albano: Não somos muitos professores. Por exemplo na área técnica onde há mais colaboração somos três ou quatro por ano, mas eu entro na sala dos meus colegas e eles na minha. Definimos, regularmente, como vamos fazer um projeto, quem é que o vai fazer e que tarefas vai executar. Os alunos dão-nos um input a esse nível. Temos, por exemplo, quem coordene sub-equipas, sobretudo no 12.º ano. Os do 10.º, obviamente, são muito mais guiados.
ANQEP: Portanto, promovem o desenvolvimento da liderança nos alunos?
Nuno Albano: Percebe-se quem é líder. Quando pedi voluntários para um projeto, para ir fotografar, num sábado de manhã, uma reportagem de uma prova de equitação no Regimento de Lanceiros, tive cinco voluntários. Portanto percebemos quem é que tem mais vontade, se bem que esse voluntariado também é estimulado pelo facto de haver prémios. No ano passado tivemos uma aluna que ganhou um prémio de um filme para o Museu das Comunicações. Este prémio foi um estágio. Os prémios agora são estágios, mas é bom, tal como poderem receber diplomas. Eu acredito no valor dos diplomas, que referem que alguém participou num determinado projeto, e isso é curriculum. Os alunos têm de ter muita noção de que quem trabalha mais, quem faz mais coisas, tem mais curriculum do que quem não trabalha.
ANQEP: Quando os alunos terminam o curso, tem perceção se a maioria vai logo trabalhar ou se continua os estudos?
Nuno Albano: Há várias situações. O mercado de trabalho não é o que era, isso é generalizado. Mas temos alunos que saem e vão trabalhar, temos alunos que saem, querem e vão felizmente para a universidade, e temos alguns alunos que agora emigraram, por razões que são completamente alheias ao curso. Tem a ver com a situação geral. Mas tenho um balanço positivo em termos dos alunos que estão a trabalhar e a trabalhar na área, não é só a trabalhar. Também tem a ver com o tipo de estágios que fazem.
ANQEP: Para além desses projetos, os alunos fazem também formação em contexto de trabalho em empresas?
Nuno Albano: Fazem, claro, porque é obrigatório, mesmo que não quiséssemos eles tinham de fazer estágio. Mas para nós é importante que eles façam estágio. Temos empresas onde continuadamente vão fazendo estágio, onde as coisas felizmente vão correndo bem, mas já não há tantas empresas como havia porque o mercado de trabalho de facto encolheu.
ANQEP: Qual é a sua perceção quando os alunos regressam do estágio?
Nuno Albano: Eles ficam muito mais maduros e percebem que os sermões que lhes dêmos durante o ano (eu dou muitos sermões) têm um feedback no trabalho real, nos horários, no comprometimento, na responsabilidade e até em termos dos softwares. É muito importante que eles percebam os conceitos. Ninguém tem de lidar com todos os equipamentos. Têm é de perceber como funciona um determinado tipo de equipamento porque assim, no mercado de trabalho, vão ter facilidade em se adaptarem.
ANQEP: Para terminar, que considerações gostaria de fazer sobre o ensino profissional?
Nuno Albano: O ensino profissional é extremamente necessário. Eu gosto do ensino regular, mas acho que a ideia de dar competências reais às pessoas é importante. Se eu sair do ensino regular, em que me explicam todos os grandes fotógrafos que existiram e todas as técnicas, mas eu nunca tirei uma fotografia, a escola está a negar à pessoa capacidades e até eventualmente gostos. Nós aqui temos várias áreas. Os alunos tanto aprendem web, como audiovisual, produção da multimédia ou 3D. E há quem entre aqui com uma ideia e saia de cá como profissional noutra área. Se calhar, este aluno, para a fotografia até nem tinha muito jeito, (gostava muito de ver, mas não tinha jeito para fotografar), mas, depois, acabou por gostar de vídeo ou de produzir uma página da Internet.
Publicada pela ANQEP, novembro 2012