Dorothy
Espelage, norte-americana especialista em bullying, e o psicólogo João Lopes, doutorado em Psicologia da Educação, na conferência sobre Indisciplina na Escola, que está a decorrer nos dias 17 e 18 de out, na Fundação Francisco Manuel
dos Santos, em:
O artigo de Natália Faria, no Publico de hoje com o título "Os professores têm de ser ensinados a gerir a
indisciplina nas salas de aula":
Contra a indisciplina nas escolas, de nada valem documentos como
o Estatuto do Aluno, segundo especialista que defende que o problema se
combate com a promoção do sucesso escolar
Falar alto na sala de aula, insultar o professor, não responder:
a indisciplina nas salas de aula aumentou, embora esteja longe de atingir
proporções preocupantes em Portugal. Mas, porque são "atitudes de baixo
impacto mas elevada frequência", professores e pais partilham uma
percepção muito negativa e inflacionada do problema. Soluções? "Atacar o
problema do insucesso escolar e garantir que os docentes recebem formação em
orientação e gestão de salas de aula", responde João Lopes, doutorado em
Psicologia da Educação e um dos oradores da conferência Indisciplina na
Escola que decorre hoje e amanhã - em Lisboa e Braga, respectivamente.
Promovida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, a palestra
conta ainda com a participação de Dorothy Espelage, uma norte-americana
especialista em bullying, e procurará responder a questões como: há mais
indisciplina do que há alguns anos atrás? Estratégias como a expulsão da escola
resultam ou pioram o problema? O insucesso dos alunos é maior porque eles são
indisciplinados ou eles são mais indisciplinados porque têm insucesso? Ora,
para João Lopes, tornou-se claro que "os alunos portam-se mal porque têm
insucesso académico". Daí que o professor na Universidade do Minho defenda
que a solução para o problema reside na promoção do sucesso escolar.
"Muita da indisciplina é uma reacção ao facto de o aluno estar numa sala
sem conseguir acompanhar a aula", explicita.
Mas as soluções não se esgotam aqui. Para prevenir o problema,
mais do que apostar tudo na reacção punitiva, seria necessário que os
professores aprendam a gerir uma turma. "Seja na formação inicial ou na
formação contínua, os professores têm de ser ensinados a organizar o grupo,
estabelecer regras, rotinas, procedimentos, formas de participação e de
circulação na sala de aula. Quando isto falha, gera-se indisciplina",
concretiza o especialista, para lembrar que "não se pode pensar que os
professores sabem organizar uma aula porque andaram na escola, até porque os
alunos têm hoje comportamentos que eram impensáveis há quarenta ou cinquenta
anos atrás".
Hoje há mais indisciplina nas escolas? "Como não poderia
deixar de ser", adianta. E explica: "Hoje em dia, toda a gente está
na escola até aos 18 anos. Há cinquenta anos atrás, na quarta classe, 40 ou 50%
dos alunos já estavam eliminados. E, portanto, os que chegavam ao liceu já iam
com motivações completamente diferentes". Por outro lado, o que ajuda
também a explicar o agravamento da indisciplina é a mudança nas relações
sociais. "As relações entre pais e filhos horizontalizaram-se, isto é,
deixaram de ser tão hierárquicas e muitos pais começaram a ter mais dificuldade
em controlar os miúdos em casa". E não, a culpa não é dos pais nem da
falta de tempo destes para os filhos. Até porque "o tempo disponibilizado
pelos pais para os seus filhos é hoje incomparavelmente superior". A mudança
é, isso sim, cultural. "Antigamente, as mesas das refeições eram
quadrangulares e os pais ocupavam o topo, hoje tendem a ser redondas. Nas salas
de aula, por outro lado, desapareceram os estrados para os professores, não por
uma questão técnica ou arquitectónica, mas por causa das diferenças na
representação do poder". São transformações lentas que levam a que os
alunos comecem "a confundir os papéis e a ter mais dificuldades em ver no
professor alguém que é substancialmente diferente do resto da turma".
Contra isto, de pouco valem as constantes reformulações do
estatuto dos alunos e a reivindicação do reforço da autoridade do professor na
sala, diz João Lopes. "São documentos com dezenas e dezenas de páginas,
logo inócuos". Para Lopes, "há a autoridade que a sociedade confere e
há aquela que os professores ganham" no quotidiano. E para garantir que
esta existe basta "meia dúzia de regras, que têm de ser deixadas claras
logo no primeiro dia". Depois, perante um cenário em que um aluno insulta
um professor, a reacção deve ser "rápida, directa e muito visível",
do género expulsar da sala de aula e suspender o aluno, se for preciso. O que
não se pode fazer "nunca, mas mesmo nunca", é deixar passar em claro,
"porque é a acumulação de pequenas coisas que torna difícil a vida dos
professores".
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