“Os
novos métodos que foram introduzidos na organização de trabalho e que
permitiram experimentar novas formas de domínio do mundo, transformaram-se a
partir daí, em métodos de domínio de toda a sociedade.
Esta
relação entre o trabalho e a sociedade é a chamada a centralidade no trabalho.
É uma tese apoiada por determinados investigadores, dos quais eu faço parte,
sobre a centralidade politica do trabalho.
É
no mundo do trabalho que os dirigentes experimentam novas formas de domínio.
Primeiro experimentam no trabalho e, de seguida, generalizam para a sociedade.
Se introduzirmos no mundo do trabalho a avaliação individualizada da performance
quebram a solidariedade no interior de uma empresa. Mas se quebrarmos a
solidariedade no interior de uma empresa, quebramo-la no exterior. Porque se eu
sou um patife, com o meu vizinho, com o meu colega, e se ele agir como um
patife comigo, se desconfiarmos uns dos outros, se aprendermos a desconfiança,
se tivermos motivos para desconfiar um dos outros, se eu for assim dentro da
empresa, ao sair sê-lo-ei também.
No
fim, a individualização que foi construída na empresa, vai conduzir à
individualização da sociedade. Daí as pessoas sofrerem tanto. Estamos sozinhos.
E a solidão…é uma realidade de tal forma grave hoje, que perdemos o senso
comum. Ou seja, já não sabemos uns e outros, o que é certo e o que é errado, o
que é justo e o que é injusto.”
Christophe Dejours (Paris, 7 de abril de 1949) é doutor em Medicina, especialista em medicina do trabalho e em psiquiatria e psicanalista. É autor de várias obras sobre as relações laborais.
Imagem: Jornal Publico
Retirado de : https://www.rtp.pt/ no minuto 25 do vídeo "António Coimbra de Matos: O olhar nos outros"
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