A propósito da publicação do livro Elas – Percursos “Inesperados” de Jovens Mulheres das Classes Populares, do sociólogo João Teixeira Lopes editado pela Tinta da China, um enxerto do artigo de hoje, do Jornal Publico, da autoria de Natária Faria: (https://www.publico.pt/)
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"Elas destacam-se muito mais"
E quanto aos rapazes? Não há elementos do género masculino provenientes das
classes populares que se destaquem pelos percursos académicos? “Elas
destacam-se muito mais”, responde, lapidar, o sociólogo*. Porquê? “Acho que tem muito que ver com a socialização de
género, isto é, elas são desde muito cedo obrigadas a organizar-se, até pela
pressão doméstica e pela divisão sexual das tarefas, e isto depois tem
continuidade na escola, onde elas questionam menos, são mais metódicas, menos
indisciplinadas. Eles, pelo contrário, assumem mais frequentemente posturas de
questionamento da autoridade dos professores e do sentido da escola, também porque
encontram na cultura de pares a ideia de que a masculinidade se avalia pela
capacidade de desafiar a autoridade. Com isto, eles ganham capital de
masculinidade entre os pares, mas depois têm resultados escolares desastrosos”,
admite.
Por causa disto também é que João Teixeira
Lopes aplaude de pé a proposta governamental de criar quotas
para alunos carenciados no acesso à universidade. “Esta acção afirmativa é
fundamental, principalmente para os rapazes porque, quando vêm de meios
culturalmente desprovidos e economicamente depauperados, eles têm dificuldades
acrescidas”. Mas, ressalva, as
quotas não chegam. “É preciso que haja a montante redistribuição da riqueza
e políticas sociais que aproximem as famílias da linguagem da escola, e a
jusante práticas pedagógicas que valorizem a diferença na sala de aula, que não
valorizem tudo por igual e que não façam um ensino universitário
industrializado como muitas vezes acontece”, preconiza.
*. Sociólogo João Teixeira Lopes - professor catedrático no Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto
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