domingo, 22 de setembro de 2013

Daniel Sampaio: "Psicólogos nas escolas "



O artigo do psiquiatra e terapeuta familiar Daniel Sampaio, com o título Psicólogos nas escolas, que saiu na Revista 2 do Jornal Publico de hoje:
"Psicólogos nas escolas, quase uma raridade. No PÚBLICO de 14 de Setembro, o Sindicato e a Ordem dos Psicólogos chamavam a atenção para esta difícil realidade: no próximo ano lectivo, calcula-se que haverá um psicólogo para 4000 alunos, quando as normas internacionais recomendam 1/1000. Os concursos sofreram atrasos e os horários semanais devem vir a ser reduzidos. Em muitos casos, os técnicos vão pertencer a mais do que um agrupamento escolar e correr de uma escola para outra, sendo impossível planear uma intervenção com continuidade. Parecem prevalecer, mais uma vez, critérios economicistas, em vez de se privilegiar a qualidade da prestação do serviço.
Os psicólogos são importantes em todas as escolas e essenciais em muitas delas. São fundamentais nos estabelecimentos de ensino sediados em zonas mais difíceis, onde a crise agravou os problemas da saúde mental das famílias, o rendimento escolar piorou e aumentaram as dificuldades psicológicas. Noutras escolas, o psicólogo pode colaborar com os professores na definição de projectos educativos e no trabalho com os pais, sendo crucial a sua opinião em todas as questões relacionadas com a Educação para Saúde e a Educação Moral. Sendo a escola actual atingida por uma imensa onda de indisciplina, com aulas em muitos casos transformadas em locais de diversão ou de contestação sem sentido, o psicólogo poderia colaborar com comissões de alunos e de professores para melhorar o clima escolar (por exemplo, seria bom que as escolas se organizassem em Assembleias de Delegados de Turma e o psicólogo estivesse muito atento ao que lá se passa).
Parece evidente que, por razões financeiras, será impossível ter um psicólogo em todas as escolas da rede pública. Todavia, não vamos no caminho certo: um aumento de cinco vagas para o próximo ano, na situação em que vivemos, é sem dúvida muito pouco, sobretudo se as condições de trabalho são as que se esperam. O psicólogo da escola deve lá permanecer muitas horas e ter um gabinete com marcações de atendimento, mas também muitos momentos de porta aberta para poder receber alunos e pais em situações não previstas. Precisa de acompanhar os projectos de mudança do quotidiano escolar e incentivar a alteração do que está menos bem. Necessita compreender a dinâmica das famílias dos alunos com dificuldades e promover cursos de formação parental, sempre que for aconselhado. O psicólogo é um técnico essencial na detecção das dificuldades de aprendizagem (sobretudo logo no 1.º ciclo) e no despiste dos primeiros sinais de psicopatologia, com realce para as perturbações de ansiedade e depressão, as mais frequentes.
Seriam precisos menos psicólogos se os professores recebessem mais formação na área do acompanhamento psicossocial dos seus alunos. Na época em que cada escola tinha um professor coordenador de Saúde, era possível organizar acções de formação para esses docentes e capacitá-los para a resolução de muitos dos problemas acima referidos. Ao desvalorizar agora esta área, o Ministério da Educação é responsável por termos menos professores mobilizados para estas questões, sem que a escola se veja apoiada de outra forma.
Num início de ano que não correu bem, a questão dos psicólogos escolares merece toda a atenção. O seu trabalho em muitas escolas tem contribuído para a prevenção de situações problemáticas, por isso tem de ser incentivado todos os dias."

Sem comentários: