sexta-feira, 3 de junho de 2022

Violência Doméstica

 Um enxerto do artigo de Carla Ribeiro que saiu no jornal Publico de hoje com o título: 

"Um caso mediático pode servir para aumentar as denúncias, “independentemente

do género" a propósito do julgamento de Johnny Depp  e  Amber Heard

 (:::)

  

A estratégia do agressor para o psiquiatra João Redondo, da Unidade de Violência Familiar, faz todo o sentido deixar de lado o discurso do bom e do mau, destacando que “trabalhar apenas a vítima pode ser arriscado”, sendo imperativo para que se chegue a bom porto, um trabalho profundo também com o agressor. E, no caso que fez manchetes um pouco por todo o mundo, mais relevante do que decidir qual dos dois actores terá sido agressor e qual o agredido, ou se a violência foi bidireccional, o clínico realça que importa observar que ambos relataram uma infância problemática e descreveram abusos que sofreram em contexto familiar. “O ambiente onde as pessoas crescem vai desde potencialmente poder alterar estruturas cerebrais, até digamos, no extremo, activar e desactivar genes”, diz João Redondo. Isso não significa que alguém que sofra maus tratos na infância venha a ser um agressor, mas as probabilidades aumentam. “Os nossos cérebros são  esculpidos pelas nossas primeiras experiências”, diz, citando o investigador norte-americano Martin Teicher, num estudo de 2000 sobre a redução do volume do hipocampo na perturbação de stress pós-traumático: “Os maus tratos são um cinzel que modelam o cérebro para lidar com conflitos, mas à custa de profundas feridas duradouras.” E o impacto é tanto maior quanto menor for a idade da vítima, como reforça Renata Benavente: “A criança pode não se lembrar (as primeiras memórias são dos 3 ou 4 anos) mas os acontecimentos moldam e influenciam os comportamentos futuros.” Daí que João Redondo se centre na “importância da saúde, das famílias e das relações”, considerando imperativo que se aposte na prevenção. Isso não significa que se desista de corrigir as relações desequilibradas, e, aponta o clínico, “quando se faz o historial violência, importa perceber quem é que, ao longo desse historial, quer manter o controlo e o poder sobre quem” para identificar quem é a vítima e o agressor. Quanto a quem agride, o psiquiatra explica que “o medo é a estratégia do agressor”, enquanto a vítima, regra geral, exibe “vergonha” e “culpa”
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