Artigo de Clara Viana que saiu no Publico a 13.4.2016, com o título Baixas qualificações são incentivadas pelo mercado de trabalho existente:
"Inquérito mostra que mesmo
sem o ensino secundário, a maioria diz não precisar de mais para realizar as
tarefas que lhes são pedidas.
O mercado de trabalho
existente não potencia a necessidade de melhores qualificações. É, pelo menos,
o que diz a grande maioria (68%) dos inquiridos no âmbito de um estudo sobre o
valor atribuído pelos portugueses à educação, que será apresentado nesta quarta-feira,
no lançamento de um novo grupo de reflexão sobre Educação, promovido pela
Fundação Belmiro de Azevedo (do universo Sonae, proprietária do PÚBLICO).
O
que dizem então? “Que as qualificações escolares detidas são suficientes,
atendendo ao que lhes é exigido pelo trabalho que realizam”, mesmo que mais de
metade dos inquiridos (63%) não tenha chegado sequer ao ensino secundário e não
tenha, por isso, a escolaridade mínima obrigatória que agora é exigida aos
jovens.
“Isto
quer dizer que os desafios que se lhes colocam, no dia-a-dia profissional, são
provavelmente muito escassos”, comenta a investigadora do ISCTE- Instituto
Universitário de Lisboa, Patrícia Ávila, que coordenou o estudo. Mostra também
que “em Portugal, há uma adequação perversa entre uma ‘oferta’ de recursos
humanos baseada em baixas qualificações e uma ‘procura’, por parte do mercado
de trabalho, no mesmo sentido, o que as reforça”, acrescenta.
Gonçalo
Xufre, presidente da Agência Nacional para a Qualificação e Ensino Profissional
( ANQEP), que é também responsável pela educação de adultos, alerta que esta
não é apenas uma característica portuguesa. “Recentemente tivemos conhecimento
dos resultados do primeiro inquérito pan-europeu, centrado na desadequação das
competências - que envolveu 49 mil adultos entre os 24 e os 65 anos - de 28
Estados membros da UE, cujos resultados são semelhantes: 25% dos adultos
dizem-se sobrequalificados para os empregos que ocupam e 41% dão conta de que
apenas precisam de utilizar competências básicas nos exercícios diários das
tarefas que lhes são exigidas nos locais de trabalho”, especifica. Estes
resultados revelam uma “falta de investimento em empregos de qualidade, com
consequências nefastas para todos (empregados, empresas, países) ”, alerta.
O
estudo português tem na base uma série de entrevistas telefónicas, realizadas
em Março passado, a 1201 pessoas com idades iguais ou superiores a 18 anos.
Entre os que se ficaram pelo 9.º ano, apenas entre 15% a 17% consideram que as
suas qualificações “são inferiores aos que necessitam”, uma situação que se
inverte entre os licenciados, que representam 19% dos inquiridos, mas que
aponta no mesmo sentido: a existência de um mercado de trabalho pouco exigente.
Dos que têm o ensino superior, 41% dizem ter qualificações superiores ao
necessário, o que só se passa com 10% dos que não chegaram ao secundário.
Gonçalo
Xufre recorda que a maior parte dos países europeus, incluindo Portugal,
começou “por tentar resolver o problema da desadequação das qualificações às
necessidades do mercado de trabalho pelo lado das políticas de educação e
formação”. Só que esta abordagem, frisa, deixou de ser suficiente: “É preciso
que as empresas também se associem na procura da solução para podermos ter uma
melhor e maior adequação entre as qualificações produzidas pelos sistemas de
educação e formação e as competências necessárias à produtividade das empresas
e dos países, o que não se tem verificado”."
SABER mais:
http://www.direitodeaprender.com.pt/artigos/qual-o-valor-atribuido-pelos-portugueses-educacao
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