quarta-feira, 20 de abril de 2016

Baixas qualificações são incentivadas pelo mercado de trabalho existente


Artigo de Clara Viana que saiu no Publico a 13.4.2016, com o título Baixas qualificações são incentivadas pelo mercado de trabalho existente:

"Inquérito mostra que mesmo sem o ensino secundário, a maioria diz não precisar de mais para realizar as tarefas que lhes são pedidas. 
O mercado de trabalho existente não potencia a necessidade de melhores qualificações. É, pelo menos, o que diz a grande maioria (68%) dos inquiridos no âmbito de um estudo sobre o valor atribuído pelos portugueses à educação, que será apresentado nesta quarta-feira, no lançamento de um novo grupo de reflexão sobre Educação, promovido pela Fundação Belmiro de Azevedo (do universo Sonae, proprietária do PÚBLICO).
O que dizem então? “Que as qualificações escolares detidas são suficientes, atendendo ao que lhes é exigido pelo trabalho que realizam”, mesmo que mais de metade dos inquiridos (63%) não tenha chegado sequer ao ensino secundário e não tenha, por isso, a escolaridade mínima obrigatória que agora é exigida aos jovens. 
“Isto quer dizer que os desafios que se lhes colocam, no dia-a-dia profissional, são provavelmente muito escassos”, comenta a investigadora do ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa, Patrícia Ávila, que coordenou o estudo. Mostra também que “em Portugal, há uma adequação perversa entre uma ‘oferta’ de recursos humanos baseada em baixas qualificações e uma ‘procura’, por parte do mercado de trabalho, no mesmo sentido, o que as reforça”, acrescenta.
Gonçalo Xufre, presidente da Agência Nacional para a Qualificação e Ensino Profissional ( ANQEP), que é também responsável pela educação de adultos, alerta que esta não é apenas uma característica portuguesa. “Recentemente tivemos conhecimento dos resultados do primeiro inquérito pan-europeu, centrado na desadequação das competências - que envolveu 49 mil adultos entre os 24 e os 65 anos - de 28 Estados membros da UE, cujos resultados são semelhantes: 25% dos adultos dizem-se sobrequalificados para os empregos que ocupam e 41% dão conta de que apenas precisam de utilizar competências básicas nos exercícios diários das tarefas que lhes são exigidas nos locais de trabalho”, especifica. Estes resultados revelam uma “falta de investimento em empregos de qualidade, com consequências nefastas para todos (empregados, empresas, países) ”, alerta.
O estudo português tem na base uma série de entrevistas telefónicas, realizadas em Março passado, a 1201 pessoas com idades iguais ou superiores a 18 anos. Entre os que se ficaram pelo 9.º ano, apenas entre 15% a 17% consideram que as suas qualificações “são inferiores aos que necessitam”, uma situação que se inverte entre os licenciados, que representam 19% dos inquiridos, mas que aponta no mesmo sentido: a existência de um mercado de trabalho pouco exigente. Dos que têm o ensino superior, 41% dizem ter qualificações superiores ao necessário, o que só se passa com 10% dos que não chegaram ao secundário.
Gonçalo Xufre recorda que a maior parte dos países europeus, incluindo Portugal, começou “por tentar resolver o problema da desadequação das qualificações às necessidades do mercado de trabalho pelo lado das políticas de educação e formação”. Só que esta abordagem, frisa, deixou de ser suficiente: “É preciso que as empresas também se associem na procura da solução para podermos ter uma melhor e maior adequação entre as qualificações produzidas pelos sistemas de educação e formação e as competências necessárias à produtividade das empresas e dos países, o que não se tem verificado”."

SABER mais: 
http://www.direitodeaprender.com.pt/artigos/qual-o-valor-atribuido-pelos-portugueses-educacao


Sem comentários: