quinta-feira, 8 de março de 2012

Capítulo 1 – O Telefonema

    A leitura da sua revista preferida fora interrompida pelo som do telefone. Adelaide Monique levantou-se então da sua confortável cadeira e apressou-se a atender. Descrevendo Adelaide, era uma mulher alta e magra, de cabelo ruivo, curto e liso com olhos cor-de-mel. Raramente era vista malvestida e não para menos, dada a sua vasta fortuna. Usava habitualmente um batom vermelho que adorava exagerar e na sua roupa justa, mal se mexia.

    - Estou sim? – Perguntou com a sua voz de tom médio e forte.

    A entrar na grande sala com uma cara preocupada estava Abdalónimo, mordomo de Adelaide que percebera que uma vez mais não tinha cumprido o seu objectivo de atender o telefone para que este não incomodasse a leitura da sua patroa. Abdalónimo pode descrever-se como o clássico mordomo velho que serve a família há mais de 3 gerações, mas talvez não tão velho de aspecto, uma vez que se apresentava de cabelo escuro, relativamente poucas rugas para a sua idade e uma saúde impecável.

    - Xô! Estou a falar! – Abanava-lhe a mão Adelaide para que lhe desse alguma privacidade.

    Abdalónimo saiu.

    - Mas isso era uma excelente ideia! Claro, claro que estou disponível! Não, não há problema nenhum! Eu vou esperar por cá então. Sim, por mim é perfeito. Vá, adeus. Beijinho para todos.

    Logo após a chamada terminar, Abdalónimo entrou na sala, seguido por Teresa, a criada (mas mais conhecida por Teresinha), dirigindo-se à patroa.

    - Oh! Abdalónimo! A escutar atrás da porta?! E a Teresinha também?!

    - Ai não patroazinha, eu não fiz nada, juro-lhe! Eu só vi o Abdalónimo entrar e vim…

    - Pois! Veio coscuvilhar!

    - Não, não! Eu vinha limpar aqui o pó – enquanto sacudia com o espanador vários móveis irregularmente – e então…

    - Não diga mais, não é preciso! Querem saber o que era a chamada não é? Pois bem, preparem-se. – Depois, abriu bem os braços no ar e rasgou um grande sorriso na cara. – As minhas ricas sobrinhas vêm cá passar o fim-de-semana!

    - Ai jesus! E quando é que elas vêm? – Perguntava Teresinha aflita, pensado no trabalho que os hóspedes lhe trariam.

    - Amanhã bem cedo, pois claro. Quero mostrar-lhes as vistas e arredores do palácio! Ou comprei eu esta pechincha para nada? Era o que mais faltava! Vamos dar um passeio por aí… Ai! Já tenho tudo pensado!

    - Mas… Mas ó senhora, então e os…

    - “Então e os”, nada! Vá mas é arrumar o quarto de hóspedes! AH! E elas trazem aquele amigo… O “coisinho”… Bem, não interessa. Trazem um amigo.

    - Ai e senhora, então eles ficam todos no mesmo quarto?

   - Mas o que é que essa mente já está aí a pensar Teresinha?! O quarto é enorme, tem três camas! Pare lá de me arranjar problemas e vá trabalhar que é para isso que eu lhe pago e dou habitação e alimentação!

   - Com certeza senhora! Vou já, já estou a ir. Estou a ir.

    Teresinha não era uma criada apenas, mas sim a única criada de Adelaide. Tinha sempre um ar muito atrapalhado e era muito desastrada. Era nova, digamos que por volta dos 20 anos, com cabelos castanho-escuros encaracolados mas quase nunca penteados e tinha um sotaque muito típico da aldeia onde nascera. Parecia estar sempre com receio de algo e era comum deixar um prato ir parar ao chão por culpa disto, mas não era por isso que a sua patroa se mostrava incomodada. Na verdade, Adelaide sempre achou imensa piada à rapariga.

    - E tu Abdalónimo? O que é que ainda aí estás a fazer?! Está a ficar tarde e eu quero que a Maria Amélia faça algo divinal para o jantar, vai-lhe dar a ordem, vá…

   - Com certeza, senhora. – E saiu.

Luis Filipe R. C. Leão
(continua)

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