sábado, 29 de agosto de 2015

Faça estas oito coisas e tornar-se-á mais criativo(a) e perspicaz, afirmam neurocientistas:

Parte final da entrevista de BRIGID SCHULTE  ao  neurocientista John Kounios publicada  hoje, noPÚBLICO/Bloomberg/The Washington Post, com o título Faça estas oito coisas e tornar-se-á mais criativo(a) e perspicaz, afirmam neurocientistas,  

"O neurocientista John Kounios, professor de psicologia da Universidade de Drexel (em Filadélfia, nos Estados Unidos) e co-autor, com o seu colega Mark Beeman, do livro The Eureka Factor (O Factor Eureka), estuda a forma como a criatividade – e esse momento em que de repente percebemos algo [insight em inglês] começam no cérebro. (…)
E com base em estudos científicos, sabemos que o facto de alterar alguns aspectos do nosso ambiente pode ajudar.
1) Ser positivo(a): Tem havido muita investigação, nos últimos 20 a 30 anos, que mostra que ser positivo (a) aumenta a criatividade. Quando a nossa disposição é algo negativa, ansiosa, isso melhora, pelo contrário, o pensamento analítico.
A criatividade provém de um sentimento de segurança. Quando nos sentimos em segurança, somos capazes de arriscar. E a criatividade é intelectualmente arriscada. As ideias novas podem estar erradas. Pôr essas ideias em prática pode suscitar resistências.
Quando sentimos ameaças subtis, inconscientes, temos a impressão de que não nos é permitido errar. Precisamos de ficar focados no tema em causa, não nos podemos afastar do problema em si ou daquilo que temos de fazer.
Nós também observámos que a existência de prazos, que subentende uma ameaça implícita ou consequências negativas se não forem respeitados, pode gerar ansiedade e deslocar a nossa estratégia cognitiva para uma forma mais analítica de raciocínio. Os prazos podem conduzir a um aumento da produtividade analítica, mas se um empregador quer mesmo qualquer coisa “fora da caixa”, inovador e original, talvez um prazo menos rígido possa suscitar mais criatividade.
Num outro estudo, descobrimos que as pessoas que resolviam os problemas de forma analítica apresentavam maior actividade no seu córtex visual – ou seja, estavam focadas no exterior. Mas antes de as pessoas resolverem um problema num instante de revelação, a sua actividade cerebral no córtex visual diminuía: estavam a focar a sua atenção para dentro.
Também antes desse instante de revelação, verificava-se uma maior actividade no cingulado anterior das pessoas, uma região do cérebro situado no meio da cabeça. O cingulado anterior tem como função monitorizar o resto de cérebro para detectar conflitos – e também detecta diferentes estratégias de resolução de problemas. E como não é possível utilizar duas estratégias ao mesmo tempo, são as mais óbvias que costumam ser fortemente activadas. As outras – as intuições, os palpites, que tendem a ser mais criativas, até bizarras ou excêntricas – são menos activadas, mais fracas, mais distantes.
Porém, quando a nossa disposição é positiva, ficamos mais sensíveis a “apanhar” essas ideias inconscientes menos activadas. E quando as detectamos, a nossa atenção pode virar-se para elas e elas podem surgir na nossa cabeça como uma revelação. Pelo contrário, se estivermos de mau humor e o cingulado anterior não for activado, seguimos o caminho mais forte, que costuma ser o mais fácil. Portanto, a boa disposição expande literalmente o nosso pensamento.
2) Grandes espaços: a atenção perceptual – a maneira como focamos a nossa visão – parece estar relacionada com a chamada “atenção conceptual”. Se estivermos num espaço exíguo, por exemplo a trabalhar num cubículo, não é possível dar largas à nossa atenção visual. Ela permanece focada nesse espaço estreito. E quando a atenção visual se encontra restringida, o mesmo acontece com a atenção conceptual, que se torna estreita e focada, promovendo o pensamento analítico.
Mas se nos encontrarmos num espaço amplo – num grande gabinete com um pé direito alto ou fora de portas –, a nossa atenção visual alarga-se para encher esse espaço e a nossa atenção conceptual expande-se.
É por isso que muitas personalidades criativas gostam de estar lá fora, de fazer longas caminhadas na natureza e que vão à procura de inspiração nos espaços abertos e amplos. Quando conseguimos ver ao longe, podemos pensar de forma mais lata.
3) Evitar objectos cortantes: nós descobrimos que quando as pessoas estão rodeadas de objectos pontiagudos e de arestas marcadas, tais como um sofá anguloso ou um corta-papel que parece um punhal, isso pode causar aquele sentimento subtil e inconsciente da existência de uma ameaça. E quando isso acontece, a atenção estreita-se.
Portanto, o ambiente ideal para fomentar a revelação súbita é um grande espaço, bem arejado, “mobilado” com objectos fofos e arredondados.
4) As cores da natureza: como pensamos na cor vermelha como numa cor da urgência, associada ao sangue, aos carros de bombeiros e aos sinais de Stop, ela capta e estreita a atenção. Mas as cores do meio exterior, como o azul do céu ou o verde das árvores, têm sido associadas à relaxação, à expansão, à geração de um sentimento de segurança que ajuda a atenção a expandir-se e aumenta a criatividade.
Isto não vale para todos. Se o nosso passatempo favorito for cultivar rosas, poderemos associar o vermelho às rosas que amamos.
5) Fazer pausas: quando estamos bloqueados e marcamos um intervalo para fazer algo completamente diferente, esquecemos a má ideia em que estávamos fixados. Isso permite que outras ideias, melhores ideias, cheguem à superfície da nossa consciência como bolhas. E se estivermos a trabalhar num problema sem o conseguir resolver, a pausa torna o nosso cérebro mais sensível as coisas à nossa volta relacionadas com o problema. Ficamos mais observadores e conseguimos estabelecer uma associação, que a seguir se torna consciente sob a forma de uma súbita revelação.
6) Dormir: uma das ferramentas mais poderosas para promover a perspicácia é o sono. Se estiver bloqueado(a), durma uma sesta, vá para a cama. Conseguirá expurgar melhor a ideia inútil em que se fixou e ficará mais sensível a pistas susceptíveis de resolver os problemas.
Uma das descobertas mais interessantes das neurociências dos últimos 20 anos é que quando adquirimos memórias, elas são armazenadas sob uma forma temporária e frágil, semelhante ao cimento fresco. O cimento começa por ser mole e só endurece quando seca – tornando-se então forte e durável. As memórias também. Endurecem graças a um processo de consolidação, que decorre principalmente durante o sono.
De facto, a consolidação da memória também transforma a memória. Faz ressaltar os pormenores, as relações ocultas e pode ser a base da criatividade e da revelação.
É por isso que existem tantas histórias de pessoas que acordam a meio da noite com uma ideia nova ou a solução de um problema. Tal como Paul McCartney, que acordou uma manhã com uma melodia na cabeça. Era a da canção Yesterday. Simplesmente, apareceu. O sono é um supercarregador da criatividade.
7) Não fazer nada: não fazer nada é um trabalho criativo, porque quando estamos conscientemente a não fazer nada, a parte consciente ocupa apenas uma minúscula parte do nosso cérebro – e que o resto, a parte inconsciente, esse não pára. Há um processo que os psicólogos cognitivos chamam “incubação” – que é o cérebro a remoer associações. Essas associações podem depois surgir na consciência como revelações súbitas. O sono e o não fazer nada são dois supercarregadores do processo de incubação, por que deixam vaguear a nossa mente sem haver nenhuma tarefa especial para cumprir.
Quando as pessoas têm constantemente a mente cheia de tarefas, isso inibe o processo de incubação. Não quero dizer com isso que as pessoas devam tornar-se eremitas ou livrar-se de todos os gadgets, que também incentivam a incubação. Mas precisamos de um equilíbrio entre não fazer nada e fazer coisas. Precisamos de ambos para alimentar a criatividade e a perspicácia.
8) Tomar duche: o duche é um sítio fantástico para deixar vaguear a mente, para incubar pensamentos e preparar o terreno da revelação. Debaixo do chuveiro, a água é cálida, não sentimos fronteiras entre a nossa pele e o exterior do nosso corpo. Sentimo-nos expansivos. Há um ruído branco em pano de fundo e o que vemos está um pouco desfocado, levando-nos a virar o nosso pensamento para dentro, como se estivéssemos em condições de privação sensorial. Permite que a nossa mente vagueie e que a nossa atenção se expanda. É por isso que as pessoas tendem a ter grandes ideias no duche."
Exclusivo PÚBLICO/Bloomberg/The Washington Post



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