Especialistas de
várias áreas criaram uma plataforma para apoiar jovens que saem de lares de
acolhimento e enfrentam dificuldades em iniciar uma vida autónoma, ajudando-os
a procurar emprego, casa ou dando-lhes apoio emocional.
A ideia de criar a Plataforma de Apoio a
Jovens Ex-acolhidos (PAJE) foi lançada pelo investigador João Pedro Gaspar, que
durante 15 anos apoiou crianças e jovens acolhidos institucionalmente e
percebeu as dificuldades que enfrentam quando saem da instituição.
Esta situação foi verificada num estudo que realizou para a sua tese de doutoramento, apresentada em 2014 na Universidade de Coimbra, com mais de 100 jovens adultos que viveram grande parte da sua infância em instituições de acolhimento.
Esta situação foi verificada num estudo que realizou para a sua tese de doutoramento, apresentada em 2014 na Universidade de Coimbra, com mais de 100 jovens adultos que viveram grande parte da sua infância em instituições de acolhimento.
"Uma das conclusões a que cheguei é
que as instituições acabam por só funcionar enquanto lá estão, após a saída não
estão preparadas para voltar a apoiar estes jovens adultos, mas ainda
meninos", disse à agência Lusa o investigador do Instituto de Psicologia
Cognitiva e Desenvolvimento Humano e Social (IPCDHS) da Universidade de
Coimbra.
Segundo João Pedro Gaspar, muitos destes
jovens quando saem do lar não têm uma rede de apoio que os ajude a iniciar um
novo percurso de vida.
O estudo refere que uma autonomização
brusca, sem uma rede de contactos familiares ou outros, tende a ser
percecionada pelos jovens como uma "transição negativamente marcante"
e a principal responsável por uma "vida adulta sem um rumo definido nem
uma integração social adequada".
Todos os dias João Pedro Gaspar ajuda
"meninos e meninas" a construir uma vida fora dos muros das
instituições, uma ajuda que decidiu formalizar com a criação desta rede que
conta com o apoio de uma equipa formada por especialistas de várias áreas
(finanças, saúde, segurança social, emprego, psicologia) e do IPCDHS.
A intenção é "chegar a mais jovens
adultos que necessitem de apoio em várias áreas", explicou.
Considerando estes jovens como
"vítimas prematuras, eventualmente com consequências mais graves e
duradouras", a PAJE propõe-se a prestar apoio psicológico e jurídico com o
objetivo de colmatar, no período pós-acolhimento, "a falta de amparo a uma
população maioritariamente com redes sociais frágeis e alguma ignorância do
funcionamento das instituições (saúde, financeiras, segurança social,
etc.)".
Além de promover a inclusão social e
laboral destes jovens, a plataforma pretende também ajudá-los a resolver
situações burocráticas do quotidiano, como arrendar uma casa ou preencher o
IRS.
Prestará também apoio emocional,
"extremamente importante para quem já sofreu abandonos interiores",
disse o investigador, sublinhando que a intenção "é criar alguma
estabilidade a quem tanto necessita".
Numa fase inicial, a divulgação abrange
principalmente a região centro litoral. "Em Coimbra residem centenas de
crianças e jovens institucionalizadas e um número elevado de jovens adultos,
agora sem apoio dos Lares onde cresceram, que ali (sobre)vive".
Além da ferramenta online, a PAJE terá
um espaço de atendimento no IPCDHS, disse o investigador, adiantando que
"a plataforma está preparada para arrancar logo que haja jovens a recorrer
aos serviços".
"Entendo que numa época em que os
valores com os quais crescemos e acreditamos parecem perigar, colocar os
conhecimentos e experiência de profissionais voluntários, pode restituir um
pouco de justiça a quem não foi bafejado pela sorte, numa fase precoce da
vida", salientou.
Diário Digital com Lusa
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